Indústrias
químicas e petroquímicas são as que têm
maior carência de mão-de-obra qualificada ou
com experiência profissional no Brasil, segundo levantamento
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O estudo revelou que, nesse segmento, 25.353 vagas não
serão ocupadas neste ano por esse motivo. O resultado
é a diferença entre as estimativas de oferta
de mão-de-obra preparada e geração de
empregos formais em 2007.
A pesquisa Demanda e Perfil dos Trabalhadores Formais em
2007 considerou informações da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD), da Relação
Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Nesse trabalho,
a indústria é o setor com maior déficit
de trabalhadores qualificados ou com experiência profissional.
A estimativa de oferta de mão-de-obra é de 329.035
pessoas, mas a expectativa de geração de empregos
formais é de 445.628 vagas. Portanto, as empresas industriais
ficarão com 116.593 vagas ociosas.
Apesar desses números, o presidente do Ipea, Marcio
Pochmann, comentou que não há necessidade de
importação de mão-de-obra. "Falta
gente preparada, mas o cenário é de excesso
de mão-de-obra", disse. Nesse cenário,
defendeu a necessidade de planejar um modelo de desenvolvimento
econômico que equilibre a oferta de trabalhadores e
a geração de empregos. Disse que um perfil exportador
de commodities não vai dar empregos à classe
média.
Pochmann sugeriu a criação de um sistema nacional
integrado com foco na formação profissional
e na intermediação de empregos, combinando oferta
e demanda. O exemplo citado foi o da requalificação
dos trabalhadores da indústria naval no Japão
dos anos 70. Eles foram preparados para a produção
de eletroeletrônicos.
Ele também afirmou que as empresas privadas não
investem em qualificação porque não há
confiança mútua entre empregadores e empregados.
Esse problema é revelado pela alta rotatividade (42%)
do mercado de trabalho, taxa duas vezes maior que a da economia
americana.
No setor industrial, depois das empresas químicas
e petroquímicas, a maior carência está
no segmento de produtos de transporte, com previsão
de 23.495 vagas sem preenchimento neste ano. Outros setores
industriais com projeção de déficit em
2007 são: produtos mecânicos (21.444), extração
mineral (20.846), produtos minerais metálicos (15.756),
serviços urbanitários (14.135), produtos eletroeletrônicos/comunicação/medicina
(11.879), têxtil/vestuário/calçados (10.286),
produtos de borracha/plástico (8.931) e alimentos/bebidas/fumo
(4.639).
No comércio, o quadro também é de falta
de profissionais qualificados. A previsão do Ipea é
de 6.750 postos vagos este ano. Três setores - construção
civil, agropecuária/extrativismo e serviços
- têm situação oposta à da indústria
e do comércio. Nesses casos, há mais profissionais
qualificados que vagas disponíveis.
Na construção, apesar da recente recuperação
da atividade, 76.161 trabalhadores têm qualificação
ou experiência, mas ainda não há demanda
para eles em 2007. Na agropecuária, o contingente é
pouco menor (75.864) e nos serviços esse grupo deve
ser de 55.340 pessoas.
De acordo com o estudo do Ipea, este ano haverá 9,13
milhões de pessoas procurando emprego, mas, nesse grupo,
apenas 18,3% (1,67 milhão) têm qualificação
ou experiência profissional. O perfil da demanda de
emprego formal nos setores com carência de mão-de-obra
tem, para 2007, as seguintes projeções de médias
ponderadas: 33,8 anos de idade, 9,3 anos de escolaridade e
R$ 942,8 de remuneração.
Segundo o Ipea, há maior demanda por profissionais
homens (63%), não negros (58%), com idade entre 31
e 37 anos, que tenham escolaridade entre 8,2 e 13,1 anos,
nas áreas industriais (34%), ou de atendimento público
(27%), com remuneração entre R$ 640 (indústrias
têxteis e de calçados) e R$ 1.916 (setor financeiro).
Em uma análise genérica, considerando apenas
os números absolutos e desprezando regiões e
setores, o levantamento do Ipea mostrou que o país
tem mais profissionais qualificados que vagas disponíveis.
Neste ano, a previsão é a de serem criadas 1,59
milhão de vagas, mas há 1,67 milhão de
trabalhadores qualificados. O saldo entre a oferta de mão-de-obra
e a demanda é positivo em pouco mais de 84 mil pessoas.
Pochmann também revelou que, em termos regionais,
o crescimento e a descentralização desenharam
uma nova geo-economia do emprego no Brasil. A região
Norte é a que têm a maior carência de profissionais
qualificados. Esse quadro também existe no Sul e no
Centro-Oeste. No Nordeste e no Sudeste, a situação
é oposta, com excesso de mão-de-obra qualificada.
Arnaldo Galvão
O Valor Econômico. |