Maria
Helena Guimarães atribui precariedade no ensino de
matemática à má formação
de educadores da disciplina
"O professor sai muito mal preparado das faculdades,
no país todo. Claro que não é culpa dele,
é do curso", diz titular da pasta de Educação
A secretária da Educação, Maria Helena
Guimarães de Castro, admite que há problemas
no ensino de matemática na rede, mas ressalta que os
alunos estão melhorando em leitura e escrita. "Em
português, o rumo está dado", diz ela. Na
tarde de ontem, depois de apresentar os dados do Saresp, a
secretária estadual conversou com a reportagem.
FOLHA - Como a sra. avalia os resultados do exame?
MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO - Em
português, o rumo está dado. Desde 1996 há
programas para melhorar leitura e escrita, e melhoramos isso
com o "Ler e Escrever", implementado ano passado,
que possui materiais didáticos específicos e
capacitação de professores. Em matemática,
não estamos melhorando.
FOLHA - Por que não houve prioridade para a matemática?
MARIA HELENA - Se os alunos não aprenderem
a ler e a escrever, não terão bom desempenho
em nenhuma outra disciplina.
FOLHA - Mas mesmo em português ainda há
um grande percentual de alunos abaixo do esperado.
MARIA HELENA - É verdade. Mas houve um salto
nas médias, o investimento do Estado está dando
frutos.
FOLHA - Por que os alunos vão tão mal
em matemática?
MARIA HELENA - Um dos principais pontos é
a formação dos professores. Isso desde o provão
fica evidente, as licenciaturas em matemática sempre
tiveram notas muito baixas. O professor sai muito mal preparado
das faculdades, no país todo. Claro que não
é culpa dele, é do curso oferecido. Também
precisamos melhorar os programas de capacitação.
Nos últimos quatro anos, investimos R$ 2 bilhões
na formação continuada [para todas as disciplinas],
mas parece não ter surtido efeito.
FOLHA - A secretaria fará alguma coisa para
melhorar os resultados em matemática?
MARIA HELENA - Primeiro, vamos fazer uma
intervenção nas cem piores escolas em matemática.
Vamos mandar uma equipe para essas unidades ver quais são
os problemas, analisar o projeto pedagógico. Também
faremos programas de capacitação para professores
e daremos recuperação intensiva aos alunos.
Outra coisa: detectamos que os alunos passam muito tempo copiando
coisas da lousa, porque não há material específico
para matemática, como há para leitura e escrita.
Por isso, estamos desenvolvendo livros específicos.
FOLHA - Na capital, a região com as piores
médias está no extremo da zona leste [periferia],
e as melhores, na região central. O que explica isso?
MARIA HELENA - Tem a ver com o nível
de renda da região, mas não é só
isso. É preciso analisar também os casos específicos.
Há escolas, em locais muito vulneráveis, que
conseguem bons resultados. Importa muito, por exemplo, a estabilidade
da equipe. Não podemos atrelar o resultado apenas à
renda.
Folha de
S.Paulo
|