Especialista
defende legalização do aborto e políticas
públicas mais agressivas, apostando em educação
e repressão
O economista Samuel Pessôa, da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), no Rio, acredita que chegou o
momento de a sociedade brasileira enfrentar a questão
da responsabilidade reprodutiva, para combater o crime e outros
problemas sociais. Ele é o orientador da tese de doutorado
de Gabriel Hartung, que relacionou mães solteiras a
crimes violentos.
O trabalho de Hartung traz qual mensagem para a sociedade?
O crime violento ocorrido em 2000 estava determinado por uma
tragédia social que já existia em 1980. A sociedade
brasileira lá atrás fez uma opção
de não universalizar o ensino básico, nos anos
50, 60 e 70. Assim, criamos uma máquina de produzir
miséria. O resultado foi um número enorme de
pessoas pouco educadas, tendo muito filhos - e também
muitos filhos indesejados. A bomba estourou nos anos 90.
Qual é a saída?
Há três políticas públicas. A primeira
é educação: temos de priorizar a melhora
no nível cultural de classes menos favorecidas. O segundo
ponto é repressão: melhorar a eficiência
da polícia e botar bandido na cadeia. E o terceiro
é que políticas que previnem a gravidez indesejada
são muito eficazes contra a violência. Falo de
planejamento familiar e até descriminalização
do aborto.
O senhor é favorável à legalização?
Sou pessoalmente a favor, mas entendo perfeitamente que a
sociedade seja contra. Por outro lado, acredito que a sociedade
está totalmente preparada para aceitar uma política
mais agressiva, com outros métodos de planejamento
familiar, custeada e patrocinada pelo Estado. É claro
que existem instrumentos mais razoáveis que o aborto,
cuja demanda pode cair muito se a gente escolarizar a população.
O importante é discutir a reprodução
responsável. É preciso haver a consciência
de que o ato de gerar um ser humano traz conseqüências
para toda a sociedade. Um ser humano que não foi devidamente
cuidado pela família e pelo Estado na infância
tem uma chance grande de criar fortes problemas para a sociedade
mais tarde. Temos de exigir responsabilidade não só
das instituições, mas de cada cidadão.
Fernando Dantas
O Estado de S.Paulo.
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