Sistema
de bonificação abrange desde avaliações
dos alunos até gastos com luz e telefone
O governo de São Paulo vai premiar professores e outros
funcionários de escolas estaduais que aliarem melhora
no desempenho em avaliações e na gestão.
Serão R$ 700 milhões dados às equipes
das escolas, do diretor à merendeira, em forma de bonificação
salarial a partir de 2008. Entre os itens considerados para
o prêmio estão o número de faltas de professores,
a estabilidade da equipe, contas de luz, água, telefone,
além das notas do alunos em exames externos.
“Quanto mais a escola avançar em relação
à meta determinada para ela, mais receberá.
Se a escola está péssima e fizer um esforço
muito grande, maior será a remuneração.
Não será a melhor de todas que vai receber mais”,
disse a secretária estadual de Educação,
Maria Helena Guimarães de Castro, em entrevista ao
Estado. O novo sistema faz parte do programa de ação
montado por ela, que assumiu a pasta no fim de julho.
Essa e outras mudanças descritas a seguir serão
anunciadas oficialmente pelo governo nesta semana. “Nossa
prioridade é a melhoria da qualidade do ensino fundamental
e do médio e para isso há elementos pedagógicos
e de gestão”, afirma.
Maria Helena explica que para se determinar a meta de cada
escola será preciso criar uma espécie de nota
a partir dos indicativos atuais. No critério de desempenho
dos alunos, serão usados os resultados no Saresp 2005,
o sistema de avaliação feito pelo governo para
os alunos da rede, e as taxas de reprovação.
Elementos de gestão representarão 25% da meta
a ser atingida e a aprendizagem, 75%. A idéia lembra
o Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico
(Ideb) lançando pelo governo federal neste ano e que
também determina metas, mas apenas leva em conta o
desempenho dos estudantes.
Atualmente, a bonificação na rede estadual
é dada apenas para professores mais assíduos.
“É preciso ter algo mais criterioso para distribuir
bônus”, diz. O dinheiro será transferido
em três parcelas ao longo do ano e deve ser distribuído
entre todos os integrantes da equipe escolar.
Progressão continuada
A nova secretária defende a diminuição
dos ciclos da progressão continuada, sistema que se
tornou polêmico no País porque não possibilita
a reprovação dos alunos ao fim de cada série.
Defendido pela maioria dos educadores no mundo todo, o sistema
de ciclos prevê que a escola se adapte aos estágios
de desenvolvimento da criança. No lugar das séries
entram os ciclos, períodos maiores para que o aluno
assimile os conteúdos e as competências. As avaliações
deveriam ser constantes, mas isso não funcionou na
prática na rede estadual.
A ex-secretária Maria Lucia Vasconcelos já
havia resolvido que os ciclos diminuiriam de quatro para dois
anos, para que os alunos fossem mais avaliados. Maria Helena
concorda e diz que isso vai ajudar a orientar o professor
no período da alfabetização, entre 1ª
e 4ª séries. “Todos os alunos de 8 anos
devem estar plenamente alfabetizados ao fim da 2ª série
em 2010.” Entre 5ª e 8ª, a secretária,
porém, não quer mexer no período dos
ciclos.
Outro problema da progressão continuada é a
reclamação de que professores teriam perdido
a autoridade em sala de aula porque não podem mais
reprovar os alunos. A secretária diz que está
elaborando uma forma de punição ao estudante
que “não atingir a média, não fizer
dever de casa”. “Estou pensando, podemos punir
esse aluno com aulas aos sábados.”
Ensino médio
A secretaria pretende mudar o currículo do
ensino médio noturno. Ele terá disciplinas do
ensino profissionalizante e dará um certificado a mais
aos alunos. O projeto, segundo a secretária, será
feito em parceria com o Centro Paula Souza e começará
oferecendo certificação da área de administração.
“É o telecurso técnico, uma mistura de
curso presencial e semipresencial, mas que será oferecido
no horário de aula na escola”, explica.
Atualmente, há 955 mil alunos no período noturno
do ensino médio e da Educação de Jovens
e Adultos (EJA), o antigo supletivo. O certificado será
opcional para todos esses estudantes.
Nova recuperação
No mês que vem, começa a funcionar o
boletim eletrônico nas escolas da rede. Segundo a secretária,
ele vai permitir o monitoramento das avaliações
dos alunos. “Existem muitas escolas que chegam ao fim
do ano sem ter feito nenhuma avaliação”,
diz. O boletim também vai deixar mais claro quais alunos
participarão das novas aulas de recuperação,
que serão instituídas na rede. “Hoje o
reforço não existe, só existe no papel.
Considerando a jornada atual, o professor não tem tempo
para fazer reforço”, explica Maria Helena.
A nova recuperação vai ter materiais a distância
e será dada por um tutor, que pode ser aluno bolsista
de universidade e deve estar disponível também
para plantões de dúvidas.
Escola da família
“Não temos um projeto para acabar com
a Escola da Família”, disse a secretária.
O programa, que abria todas as escolas da rede aos fins de
semana e oferecia atividades dadas por universitários
bolsistas, era a menina dos olhos do ex-governador Geraldo
Alckmin. No início do ano, ele foi reduzido pela ex-secretária.
Maria Helena diz que existem escolas em que há 15 monitores
bolsistas quando bastariam 5. “Seria muito mais útil
que essas pessoas fossem lá nos dias de semana”,
afirma. Por isso, segundo ela, a secretaria pretende rever
o número de bolsistas - que têm parte de suas
mensalidades nas universidades pagas pelo governo em troca
do trabalho.
Conteúdo básico
A secretaria está elaborando materiais que
definem os conteúdos e as expectativas de aprendizagem
para cada série. “Os professores reclamam que
não têm clareza do que deve ser desenvolvido
em sala de aula”, diz a secretária. O material
é uma orientação para professores, que
continuam também a usar o livro didático. Maria
Helena diz que não serão feitas apostilas para
alunos, como chegou a ser questionado há alguns meses,
quando o projeto foi anunciado pela ex-secretária.
Ela explica ainda que essa expectativa de aprendizagem será
checada de dois em dois meses por avaliações
dentro da escola. Serão criados ainda 12 mil novos
cargos de professores coordenadores, que também terão
a função de organizar o trabalho com o novo
material, que está sendo elaborado pela Fundação
Vanzolini. “Não é uma camisa-de-força,
são conteúdos universais que a escola terá
de cumprir e pelos quais será cobrada”, diz.
Segunda ela, essa expectativa fará parte das questões
do Saresp. O exame deste ano será em outubro.
Formação continuada
“Muitos professores dizem que isso não
adianta nada”, diz a secretária. Ela conta que
vai repensar os programas de formação de professores
que existem atualmente. Maria Helena defende que os cursos
estejam articulados aos problemas identificados nas avaliações,
como o Saresp. Caso contrário, eles não têm
resultado, afirma.
“Hoje as avaliações externas não
são usadas, nem para os programas de formação
nem para orientar os projetos das escolas”, diz Maria
Helena. A educadora ficou conhecida por ser especialista em
avaliações e criar exames como o Provão
e o Enem no Ministério da Educação (MEC).
Frases
“Se a escola está péssima e fizer
um esforço muito grande, maior será a remuneração”
“Todos os alunos de 8 anos devem estar plenamente alfabetizados
ao fim da 2.ª série em 2010”
“Estou pensando, podemos punir esse aluno com aulas
aos sábados”
sobre alunos que não podem ser reprovados e tiram a
autoridade do professor
“Existem muitas escolas que chegam ao fim do ano sem
ter feito nenhuma avaliação”
“Hoje o reforço não existe, só
existe no papel. O professor não tem tempo para fazer
reforço”
“Os professores reclamam que não têm clareza
do que deve ser desenvolvido em sala de aula”
“Muitos professores dizem que isso não adianta
nada”
sobre a formação continuada
Renata Cafardo
O Estado de S.Paulo.
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