Sol
de rachar, temperatura na casa dos 33C, duplas de sunga jogam
futevôlei numa quadra de areia. Lutadores de esgrima,
vestidos a caráter, duelam sobre a marquise de um parque.
Adultos e crianças escorregam numa tirolesa, como se
estivessem no meio do mato. Nem parecia São Paulo.
Mas as filas gigantescas, o engarrafamento, até de
madrugada, e a falta de informação não
deixavam dúvida.
Cenas da primeira edição
da Virada Esportiva, série de atividades variadas,
de futebol de botão a esportes náuticos, que
totalizaram 400 eventos em 230 locais da cidade, das 14h de
sábado às 14h de ontem.
Inspirada na Virada Cultural, que
acumula três edições, a versão
esportiva teve um público acima do esperado -cerca
de 1 milhão, sendo 300 mil deles competidores, segundo
a prefeitura. A previsão inicial era de reunir 100
mil pessoas.
"Eu não gosto de fila.
O paulistano não quer mais fila. Mas esse é
o primeiro evento. Assim como a Virada Cultural, a terceira
ou quarta edição da esportiva será um
sucesso", diz o secretário municipal de Esportes,
Walter Feldman. "A expectativa era de uma juventude bombando,
por isso o policiamento foi reforçado."
Se a segurança foi o forte
-policiais militares, seguranças e guardas metropolitanos
em carros e motos patrulhavam os locais-, a falta de informação
desapontou alguns.
Há 25 anos vivendo em São Paulo, o norte-americano
John Macy, 50, encarou duas horas de fila para deixar três
filhos praticarem tirolesa, no final da noite de anteontem,
no Memorial da América Latina. "Não achei
informações sobre a programação.
Fui ao Ibirapuera buscar um folheto. Não achei. Eles
deveriam divulgar melhor da próxima vez, porque é
uma iniciativa fabulosa", diz Macy.
Fã de esportes, o engenheiro
Tiago de Oliveira, 28, estava ontem de bike no parque Villa-Lobos,
onde, além de futevôlei e vôlei de praia,
teve uma luta de esgrima sobre a marquise. Também se
sentiu desinformado sobre o evento.
"Poderia ter alguém dos organizadores na entrada
do parque falando sobre as atividades. Eu jogo basquete. Onde
posso praticar no dia em homenagem ao esporte? Não
faço idéia."
O secretário Walter Feldman
nega falta de informações. "Distribuímos
300 mil guias e disponibilizamos o site", diz.
Carros e corredores
O engarrafamento foi outra constante nos arredores dos principais
locais. Quem tentou trafegar pela avenida 23 de Maio, sentido
bairro, e pelas ruas paralelas ao parque Ibirapuera, de manhã,
enfrentou longos trechos de lentidão. Houve interdições
por conta da Maratona de Revezamento Pão de Açúcar,
que fez parte das atividades da Virada Esportiva.
Eniraci Fabre, diretora do Departamento de Promoção
de Esporte e Lazer da Secretaria Municipal de Esportes, disse
que 25 mil atletas se inscreveram para a maratona, que contou
ainda com mais 2.500 não-inscritos. Como se não
bastasse os corredores, o público lotou ontem o parque.
Havia fila até para usar o bebedouro.
O engenheiro Wilson Saiki, 45, que se considera um veterano
em maratonas na região do Ibirapuera, não sabia
que ela havia sido incorporada à virada. Neste ano,
além do filho Willian, 15, que acompanhou o pai pela
terceira vez, Saiki trouxe o amigo Joel Kimura, 54, também
engenheiro. "Estava me preparando havia três meses.
Mas não tinha corrido na rua, só na academia.
Achei incrível", disse Kimura, que se dizia empolgado
para encarar a próxima maratona no ano que vem -com
ou sem engarrafamento.
Roberto de
Oliveira e William Vieira
Folha de S.Paulo.
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