Instituições
recorrem a medidas alternativas para frear indisciplina dos
alunos
Os pedidos de silêncio e as ameaças de advertência
já não são os únicos inimigos
da "turma do fundão" nas escolas particulares.
Contra a indisciplina dos alunos, os colégios têm
tomado medidas que vão de reformas da sala de aula
a punição em atividades esportivas.
É o caso do colégio Augusto Laranja, localizado
na zona sul de São Paulo. Neste ano, as classes do
ensino médio (antigo colegial) foram modificadas para
que ficassem mais largas do que profundas. Agora, as fileiras
têm no máximo quatro carteiras. Antes, era o
dobro.
"Quando chegamos no começo do ano, levamos um
susto: "Cadê o fundão?'", disse Marcela,
15, do 2º ano do ensino médio. "A primeira
preocupação foi: "Como vamos colar?'"
Segundo a diretora, Rosa Costa de Paula, a intenção
da escola foi coibir a indisciplina nas aulas e, também,
aumentar a integração do professor com a sala.
"Ele agora fica próximo de todos da classe."
Menos dispersão
Os alunos contam que agora dispersam menos nas aulas. "Mas
já temos novos métodos para colar. Só
não vamos entregar", disse Priscila, 16.
O Vértice, na zona sul de São Paulo, é
outro colégio que possui classes com a largura maior
do que a profundidade -a escola foi a primeira colocada nos
últimos rankings do Enem (Exame Nacional do Ensino
Médio). "Também determinamos onde cada
um vai sentar. E o mapa muda a cada 15 dias", afirmou
à Folha o diretor da escola, Marco Botteon Logar. "Isso
ajuda na socialização e evita panelinhas."
O colégio Santo Américo (zona oeste de São
Paulo) também determina onde cada aluno deve sentar.
"Muitos não querem ter o professor em cima o tempo
todo, por isso vão para o fundo. Mas, ao determinarmos
os lugares, avaliamos se ele está tendo bom comportamento",
disse a diretora de ética do colégio, Regina
Tocci.
Coisa do passado
No Pueri Domus, que possui cinco unidades na Grande São
Paulo, praticamente já não há carteiras
enfileiradas. Nas aulas, são usados grupos com até
cinco alunos ou formação em círculo.
O colégio visa, com isso, aumentar a interação
entre os próprios estudantes.
"A turma do fundão é coisa do passado",
disse a coordenadora, Karen Colby de Mattos. Ela própria
diz que ficava no fundo da classe na época de estudante.
"Eu era do povo "do social". Mas era boa aluna,
viu?", afirmou. "O formato que usamos agora permite
que um aluno possa aprender com outro, é mais interessante."
Para a presidente da Abpp (Associação Brasileira
de Psicopedagogia), Maria Irene Maluf, "a disciplina
e a integração entre os estudantes depende muito
mais da postura do professor do que a disposição
das carteiras na classe".
Segundo ela, "o desafio da escola é tornar as
aulas interessantes". De outra forma, diz a presidente
da entidade,"qualquer medida será inócua".
Fora do time
No caso de Thomas Istravinks Durigon, 16, foi a ameaça
de ficar fora de competições esportivas que
o levou a uma mudança de comportamento. "Sentava
no fundo, fazia "ola" e guerra de papel. Não
estava nem aí para as aulas", afirma.
Se mantivesse tal postura, o colégio em que estuda
-o Albert Sabin, localizado na zona oeste de São Paulo-
ameaçou tirá-lo das equipes de basquete e de
handebol mantidas para disputar torneios externos.
A escola decidiu considerar a disciplina e a participação
nas aulas para a formação de suas equipes de
competição.
"Com muita conversa, fui convencido a mudar de postura.
No ano passado, até saí do fundão",
disse Thomas.
Fábio Takahashi
Folha de S.Paulo
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