A
RECEITA para o fracasso na educação o Estado
de São Paulo já experimentou. Ela inclui uma
autonomia curricular desmedida e um sistema que permite a
professores faltar quando bem entenderem e pular quase livremente
de escola em escola. Tempere-se tudo com um mecanismo mal
implantado de progressão continuada, que acabou se
tornando um regime de aprovação automática,
e os péssimos resultados obtidos pela rede pública
do Estado nas avaliações não constituirão
surpresa.
O consolo que fica é que a secretária estadual
de Educação, Maria Helena Guimarães de
Castro, está tomando medidas para mudar o "statu
quo", como se pode depreender da entrevista que concedeu
à Folha.
A mais recente delas é a introdução de
um currículo comum acompanhado de apostilas que indicam
aos professores -e a seus eventuais substitutos- o que eles
devem ensinar em cada aula e que conhecimentos depois cobrar
dos alunos.
A autonomia didática foi uma espécie de conto-do-vigário
que um segmento da pedagogia moderna nos impingiu. Para dar
certo, ela pressupõe a concorrência de educadores
altamente capacitados e plenamente envolvidos com alunos verdadeiramente
interessados. E nada disso existe na rede pública.
Outro eixo em que mudanças se fazem necessárias
é o da estabilidade do quadro de professores. É
inadmissível que, nem bem iniciado o ano letivo, 45
mil dos 250 mil docentes já tenham mudado de escola.
Isso sem mencionar as faltas. Elas chegam a 30 mil por dia
-uma taxa de absenteísmo de 13%, contra menos de 1%
na rede privada.
A concessão de bônus salariais para as escolas
que cumprirem metas de desempenho é um passo para fixar
o professor no estabelecimento, mas é preciso mais.
É o caso de rever a legislação que permite
privilégios como o das faltas impunes aos funcionários.
É preciso aqui coragem para enfrentar o lobby dos sindicatos
e restabelecer o básico: o professor precisa estar
presente e saber o que ensinar. Sem isso, todo o resto é
empulhação.
Editorial da Folha de S.Paulo.
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