Um outro
lugar-comum que o cruzamento feito a partir dos dados do Saeb
e da Prova Brasil questiona é a necessidade de turmas
menores para um melhor aprendizado. Ao separar os fatores
que interferem na nota dos alunos, o professor Naércio
Menezes Filho descobriu que, mais do que o número de
alunos em sala de aula, é o tempo que eles ficam na
escola que faz diferença.
'Vemos claramente que os melhores alunos não estão
nas menores classes, mas sim naquelas escolas onde há
mais horas de aula', explica. A diferença está
nas escolas com até cinco horas diárias e nas
que ofereciam mais de cinco horas - vários Estados,
inclusive São Paulo, têm escolas em tempo integral,
onde os estudantes fazem aulas normais em um dos períodos
e atividades complementares ou de reforço no outro.
Em Barra do Chapéu, município líder
no Estado no ranking da Prova Brasil na 4ª série,
uma das iniciativas apontadas pela própria diretora
como um dos possíveis fatores para o sucesso foi a
inclusão de horas extras como reforço para alunos
que haviam repetido de ano ou estavam com desempenho considerado
crítico.
'O grande problema era que os alunos repetiam muito e perdiam
o interesse. Ficavam repetindo e repetindo até que
abandonavam a escola', conta Sara Regina Oliveira, diretora
da Escola Leonor Mendes de Barros, na cidade do Vale do Paraíba,
interior de São Paulo.
Aos 32 anos, ela assumiu a diretoria da escola e implementou
mudanças, que fizeram com que, no ano passado, os alunos
estivessem entre o grupo de nove municípios que obtiveram
mais de 218 pontos na prova. Isso significa que na 4ª
série eles são capazes de perceber o sentido
de uma metáfora e as intenções implícitas
nas falas de personagens em narrações, além
de lerem gráficos e resolverem problemas com quilogramas
e moedas.
'A escola não pode mais ser como era antigamente',
responde ela, que assumiu o cargo há três anos.
'A primeira coisa que fiz foi chamar os professores e conversar.
Existia muita falta, então vimos uma maneira de premiar
quem não faltasse. Outra coisa foi traçar metas
de aprendizado. Mas temos turmas grandes em algumas séries
sim, isso não pode ser modificado', diz.
Separação de turmas
A formação de turmas menores continua sendo
defendida pelo sindicato dos professores de São Paulo.
'O professor precisa de turma menor. Ele não tem como
controlar 45 alunos em sala. Em São Paulo, o governador
vai colocar a figura do estudante universitário para
ser o segundo professor nas primeiras séries, como
se isso fosse adiantar. Por que então ele não
separa em duas turmas menores?', questiona Carlos Ramiro de
Castro, presidente da Apeoesp. Segundo ele, o que os professores
vêem na sala de aula não é o que está
sendo apontado por cruzamento de dados.
O Estado de S.Paulo
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