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28/11/2007

Entramos para um clube pouco seleto e de classificação arbitrária

Entramos para o clube dos países de “alto desenvolvimento humano”. É uma classificação arbitrária, que tem baixa capacidade de se traduzir numa idéia nítida do que seja a nossa sociedade na cabeça de um cidadão mediano. Chegamos lá simplesmente pelo fato de o nosso IDH ter atingido, segundo o PNUD, o patamar de 0,800.

Não é um clube seleto: outros 69 países fazem parte dele. Dos 70 sócios, somos aquele que tem o menor IDH. Estamos pior que Portugal (29º), Catar (35º), Argentina (38º), Chile (40º), Uruguai (46º), Costa Rica (48º), Cuba (51º), México (52º), Líbia (56º), Rússia (67º) e, pasmem, até mesmo que a Albânia (68º). Mas há 107 países atrás do Brasil, dentre os quais estão, por exemplo, a China (81º) e a Índia (128º). O que significa que a maior parte da humanidade vive em sociedades com menos desenvolvimento humano do que a nossa.

O mais importante, porém, é que estamos melhorando. Mais lentamente do que todos nós gostaríamos, mas estamos caminhando na direção correta, pelo menos desde a conquista da estabilidade macroeconômica com o Plano Real, e a primeira leva de reformas, na década passada.

A renda não tem crescido muito, é verdade, mas estamos, aos poucos, aprendendo a distribuí-la melhor. A proporção de crianças e adolescentes que freqüentam a escola, a escolaridade média da população adulta e a esperança de vida ao nascer têm aumentado; a mortalidade infantil e o analfabetismo estão diminuindo. Temos melhorado também em outras dimensões da qualidade de vida que não são levadas em conta no cômputo do IDH: na consolidação da democracia, na capacidade de planejar nossas ações a mais longo prazo, no acesso à infra-estrutura e a bens de consumo duráveis, na qualidade da moradia, etc.

QUILÔMETROS DE DISTÂNCIA
Os níveis atingidos até o momento não podem, é claro, ser considerados satisfatórios. A desigualdade de renda ainda é excessivamente elevada para os padrões internacionais; mais da metade de nossos adolescentes de 15 a 17 anos não está matriculada no ensino médio; a qualidade da educação deixa muitíssimo a desejar; a mortalidade infantil ainda pode ser substancialmente reduzida com políticas públicas adequadas e nossa esperança de vida ainda é muito menor do que em países como a Noruega, a Austrália, o Japão ou o Canadá.

Se mantivermos o passo do último ano, vamos levar quase nove anos para atingir o patamar de desenvolvimento humano argentino de hoje; mais de 12 para o português; 18 para o italiano e 21 para o islandês ou o norueguês.

Mas não vai ser fácil manter esse passo. Por maior que seja a nossa pressa, é preciso que tenhamos a consciência de que os avanços, a partir dos patamares em que nos encontramos, tendem a ser mais difíceis. Os desafios que temos pela frente exigem o redirecionamento e o aperfeiçoamento de políticas públicas, o redesenho de instituições, a construção e o fortalecimento de mercados voltados para a base da pirâmide social brasileira.

Por mais extraordinárias que sejam as potencialidades inexploradas de nosso País, não podemos cair na tentação de acreditar em soluções mágicas, que coloquem a estabilidade macroeconômica e as instituições democráticas em risco, em nome da urgência de avançarmos nesta ou naquela direção.

André Urani, doutor em Economia e conselheiro do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS).
O Estado de S.Paulo