Entramos
para o clube dos países de “alto desenvolvimento
humano”. É uma classificação arbitrária,
que tem baixa capacidade de se traduzir numa idéia
nítida do que seja a nossa sociedade na cabeça
de um cidadão mediano. Chegamos lá simplesmente
pelo fato de o nosso IDH ter atingido, segundo o PNUD, o patamar
de 0,800.
Não é um clube seleto: outros 69 países
fazem parte dele. Dos 70 sócios, somos aquele que tem
o menor IDH. Estamos pior que Portugal (29º), Catar (35º),
Argentina (38º), Chile (40º), Uruguai (46º),
Costa Rica (48º), Cuba (51º), México (52º),
Líbia (56º), Rússia (67º) e, pasmem,
até mesmo que a Albânia (68º). Mas há
107 países atrás do Brasil, dentre os quais
estão, por exemplo, a China (81º) e a Índia
(128º). O que significa que a maior parte da humanidade
vive em sociedades com menos desenvolvimento humano do que
a nossa.
O mais importante, porém, é que estamos melhorando.
Mais lentamente do que todos nós gostaríamos,
mas estamos caminhando na direção correta, pelo
menos desde a conquista da estabilidade macroeconômica
com o Plano Real, e a primeira leva de reformas, na década
passada.
A renda não tem crescido muito, é verdade,
mas estamos, aos poucos, aprendendo a distribuí-la
melhor. A proporção de crianças e adolescentes
que freqüentam a escola, a escolaridade média
da população adulta e a esperança de
vida ao nascer têm aumentado; a mortalidade infantil
e o analfabetismo estão diminuindo. Temos melhorado
também em outras dimensões da qualidade de vida
que não são levadas em conta no cômputo
do IDH: na consolidação da democracia, na capacidade
de planejar nossas ações a mais longo prazo,
no acesso à infra-estrutura e a bens de consumo duráveis,
na qualidade da moradia, etc.
QUILÔMETROS DE DISTÂNCIA
Os níveis atingidos até o momento não
podem, é claro, ser considerados satisfatórios.
A desigualdade de renda ainda é excessivamente elevada
para os padrões internacionais; mais da metade de nossos
adolescentes de 15 a 17 anos não está matriculada
no ensino médio; a qualidade da educação
deixa muitíssimo a desejar; a mortalidade infantil
ainda pode ser substancialmente reduzida com políticas
públicas adequadas e nossa esperança de vida
ainda é muito menor do que em países como a
Noruega, a Austrália, o Japão ou o Canadá.
Se mantivermos o passo do último ano, vamos levar
quase nove anos para atingir o patamar de desenvolvimento
humano argentino de hoje; mais de 12 para o português;
18 para o italiano e 21 para o islandês ou o norueguês.
Mas não vai ser fácil manter esse passo. Por
maior que seja a nossa pressa, é preciso que tenhamos
a consciência de que os avanços, a partir dos
patamares em que nos encontramos, tendem a ser mais difíceis.
Os desafios que temos pela frente exigem o redirecionamento
e o aperfeiçoamento de políticas públicas,
o redesenho de instituições, a construção
e o fortalecimento de mercados voltados para a base da pirâmide
social brasileira.
Por mais extraordinárias que sejam as potencialidades
inexploradas de nosso País, não podemos cair
na tentação de acreditar em soluções
mágicas, que coloquem a estabilidade macroeconômica
e as instituições democráticas em risco,
em nome da urgência de avançarmos nesta ou naquela
direção.
André Urani, doutor em Economia
e conselheiro do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade
(IETS).
O Estado de S.Paulo
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