Fenômeno
ocorre mesmo entre famílias com filhos, mais ricas
e escolarizadas
Valor gasto com impostos também supera despesas
destinadas a cursos, escolas ou material didático,
aponta análise feita pelo IBGE
Os brasileiros, mesmo os mais escolarizados, mais ricos ou
os que têm filhos, gastam mais mensalmente com carro
do que com educação. O valor que pagam em impostos
também supera os pagamentos destinados a cursos, escolas
ou aquisição de material didático.
Segundo a análise feita pelo IBGE na POF, o valor destinado
à educação nas famílias em que
o responsável pelo domicílio tem ao menos o
ensino médio completo (11 anos ou mais de estudo) corresponde
a 4,9% de seu orçamento. Já o gasto com aquisição
de veículos ou combustível representa 10,8%.
Entre brasileiros que chegaram a cursar o primeiro ciclo do
ensino fundamental (que vai da 1ª à 4ª série),
mas não o concluíram, o gasto familiar com educação
é de 1,4% do orçamento, percentual igualmente
menor do que o verificado para os gastos com aquisição
de veículos ou combustível (6,9%).
O gasto com impostos também supera, nessas faixas de
escolaridade, a despesa com educação. No caso
dos mais escolarizados (11 anos ou mais de estudo), ele chega
a 6,4%. Entre os que têm entre 1 e 3 anos de estudo,
é de 2,1%.
A mesma realidade -gastos com veículos superando o
investimento em educação- é verificada
mesmo quando se compara apenas casais com filhos -que, em
tese, teriam mais gastos educacionais. Nesse caso, a proporção
do orçamento que vai para a educação,
independentemente do nível socieconômico do chefe
de família, é de 3,9%, enquanto o gasto com
aquisição de veículo e combustível
fica em 10,2%.
Para o pesquisador do IBGE José Mauro de Freitas Júnior,
é preciso considerar nessa comparação
que, no caso da educação, famílias com
filhos na escola pública não têm gastos
com mensalidades escolares. Como se sabe -pela Pesquisa Nacional
de Amostra por Domicílio- que 87% das crianças
de 7 a 17 anos estudam na rede pública, isso pode fazer
a diferença na comparação.
"É preciso lembrar que, até um determinado
nível de ensino, a educação é
uma obrigação do Estado. Também não
estamos discutindo a qualidade da escola pública",
diz Freitas.
Porém, tabulação feita pela Folha nos
dados da POF mostra que, mesmo quando se analisa apenas as
famílias de maior renda - e com mais capacidade de
pagar escola particular- e onde há mais de dois moradores
no domicílio -não se tratando, portanto, de
casal sem filhos-, o maior dispêndio em veículos
em comparação com a educação se
mantém.
Quando o investimento em educação é comparado
com a faixa etária do chefe de família, o maior
gasto proporcional aparece entre os brasileiros que estão
entre os 40 e 49 anos.
O gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares, Edilson
Nascimento da Silva, explica que essa é a população
que está em seu pico de produtividade em termos de
rendimento no mercado de trabalho. Com mais renda, é
natural que sobrem recursos para despesas com educação.
A POF revela também que a presença de uma pessoa
com nível superior eleva significativamente a renda
familiar.Essa situação, no entanto, corresponde
a apenas 16% das famílias. Nas demais, nenhum membro
atingiu nível superior. Em todas as classes sociais
analisadas, no entanto, alimentação, habitação
e transporte são os itens que mais pesam no orçamento
familiar.
Folha de
S.Paulo.
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