Cerca de 300 mil moradores
das cidades de Cotia, Embu, Embu-Guaçu e Itapecerica
da Serra serão os primeiros a entrarem em racionamento
na região metropolitana de São Paulo. A falta
periódica de água deve começar neste
mês.
A Folha apurou que os técnicos
da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado
de São Paulo) já têm até mesmo
uma data marcada, embora a empresa não a divulgue oficialmente.
O esquema inicial de racionamento
deverá ser o mesmo de 2000 e 2001, quando o sistema
Alto Cotia, que abastece a região a ser afetada, também
enfrentou cortes no fornecimento. Na ocasião, a população
ficou 32 horas sem água para cada 40 horas de abastecimento
regular.
A represa Pedro Beicht (que serve
o Alto Cotia) operava ontem com 8,5% de sua capacidade -o
menor índice da história do reservatório.
Em 6 de outubro de 2002, tinha 52,8% de seu volume e, quando
o sistema entrou em racionamento em 2000, 15%.
Diferentemente de outros reservatórios,
a represa não pode baixar muito -não pode nem
chegar aos 5%, índice considerado pela Sabesp como
o de captação-limite do sistema Cantareira.
Isso porque o Alto Cotia é
um sistema pequeno -logo tem pouco fôlego- e relativamente
isolado dos demais sistemas -portanto não se beneficia
de manobras de integração (quando um sistema
que está em situação melhor ajuda o outro
que está em dificuldades, abastecendo parte de sua
área de atuação).
Tudo o que podia ser feito nesse
sentido já foi feito em 2000, quando a represa Guarapiranga
(zona sul de SP) passou a abastecer cerca de 100 mil pessoas
que vivem em bairros da zona oeste da capital antes servidos
pelo Alto Cotia.
Em Itapecerica da Serra, moradores
já estão se preparando para o racionamento.
A aposentada Maria Joana Cardoso, 67, que se diz uma fiscal
da água, está pronta para dar bronca nos vizinhos.
"Sempre economizei e faço
com que todo mundo gaste menos. Se passo na rua e vejo uma
pessoa lavando o carro com mangueira, paro e dou bronca. Com
o racionamento, serei mais severa", diz a aposentada.
Em casa, ela faz de tudo para não
desperdiçar: lava o quintal só uma vez por mês,
acumula as roupas para usar o tanque e toma banhos rápidos.
Já a dona-de-casa Maria das Neves da Conceição,
41, doou dois cachorros para economizar. "Agora, não
preciso lavar o quintal todos os dias", afirma.
Cantareira e Alto Tietê Os próximos
na fila do racionamento de água na Grande São
Paulo são os sistemas Cantareira -que serve 9 milhões
de pessoas e estava ontem com 9,2% de sua capacidade máxima-
e Alto Tietê -que abastece 2,6 milhões de pessoas
e operava ontem com 21,8% de sua capacidade.
A única forma de evitar a falta
de água -pelo menos no curto prazo- é a chuva.
Segundo a Sabesp, se chover a média histórica
do mês, ou seja, 131,4 mm (1 mm é igual a 1 l
de água por 1 m2), o Cantareira se livra do racionamento.
Até ontem não havia chovido um milímetro
sequer na região de mananciais do sistema.
A meteorologia prevê chuvas
para os próximos dias por causa de uma frente fria,
mas, no mês, deve chover menos que a média.
MARIANA VIVEIROS
Da Folha de S. Paulo
|