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abastecimento
07/10/2003

Racionamento afeta 220 mil em 6 cidades da região de Campinas

Pelo menos 220 mil pessoas de seis cidades da região de Campinas (95 km de SP) enfrentam a falta d'água em virtude do racionamento no abastecimento. Os níveis dos reservatórios, represas e rios diminuíram consideravelmente em razão da estiagem que já dura pelo menos 50 dias.

As cidades que já adotaram o esquema de racionamento são Engenheiro Coelho, Itu, Rio das Pedras, Saltinho, Santo Antônio de Posse e São Pedro. Na iminência de adotar a medida estão Sumaré e Holambra.

Em Itu, além do nível do reservatório estar em 40% de sua capacidade, o rodízio foi implantado porque não há dinheiro para a compra de produtos para o tratamento da água, segundo o prefeito Lázaro Piunti (sem partido).

O pior quadro é o de Rio das Pedras, onde o Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) adotou ontem o racionamento de oito horas diárias. As torneiras ficam "secas" na cidade das 8h às 16h. O município tem quatro reservatórios.

Poço

"Desde julho implantamos o racionamento das 9h às 13h, mas essa medida não foi suficiente", declarou o diretor do Saae, Antonio Sérgio Angeleli.

O Saae está contratando profissionais especializados para a perfuração de um poço artesiano na cidade e a recuperação de outro, que está desativado.

Na semana passada, dois municípios, Saltinho e São Pedro, aderiram ao racionamento. Em Saltinho, o reservatório está praticamente seco. O fornecimento de água é interrompido das 9h às 16h. Em São Pedro, a água não chega às residências entre as 13h e as 17h.

Em Engenheiro Coelho, a estiagem agravou o problema natural de escassez de água. Há três meses, a cidade tem o abastecimento interrompido das 9h às 16h por causa da precariedade da estação de tratamento de águas.

Atualmente, a estação libera 50 mil litros de água por hora, sendo que a necessidade do município é de pelo menos cem mil litros por hora.

Conscientização

Com dois córregos como fonte de abastecimento, Santo Antônio de Posse aderiu ao racionamento como forma de conscientizar a população. Na cidade são consumidos 315 litros d'água por habitante diariamente. No entanto cálculos do DAE (Departamento de Água e Esgoto) apontam que seriam suficientes 500 litros diários para uma família de quatro pessoas.

Em virtude disso, das 12h às 14h o abastecimento é cortado. O racionamento deve durar até a Prefeitura de Santo Antônio de Posse se estruturar para a construção de dois reservatórios com capacidade de 500 mil litros cada um.

Outros municípios da região também sinalizam para o racionamento. Holambra estabeleceu "um prazo" de até o próximo dia 15 sem racionamento. Se até essa data não chover, haverá cortes.

Em Sumaré, as regiões da Área Cura e Matão e o distrito de Nova Veneza, que correspondem a 60% da cidade, estão prestes a adotar o racionamento porque são abastecidas pelo rio Atibaia, que, em alguns pontos, como em Campinas, pode ser atravessado a pé. Em Vinhedo, na semana passada, alguns pontos do centro da cidade ficaram sem água porque o reservatório da Estação de Tratamento de Água 2 está com nível baixo, além de receber cargas altas de esgoto pelo córrego do Moinho.

Mais trabalho

Com o corte de água no período mais produtivo do dia, a população de Rio das Pedras e de Engenheiro Coelho se desdobra para não ver o rendimento do trabalho cair por causa das torneiras secas.

A costureira de vestidos de noiva Maria da Luz Viana, 59, de Rio das Pedras, faz jornada dupla por causa da falta d'água durante o dia. "Não tenho caixa-d'água e tenho que armazenar à noite para lavar os vestidos, que as clientes não lavam antes de me entregar", afirmou a costureira.

Já na padaria do pai de Regina da Silva Fávero, 40, a economia e a falta de água são uma rotina. "Já acontece isso há dois anos. Estou acostumada a recolher água à noite", afirmou.


CAROLINA FARIAS
da Folha de S.Paulo, em Campinas