Pelo menos 220 mil pessoas de seis cidades da região
de Campinas (95 km de SP) enfrentam a falta d'água
em virtude do racionamento no abastecimento. Os níveis
dos reservatórios, represas e rios diminuíram
consideravelmente em razão da estiagem que já
dura pelo menos 50 dias.
As cidades que já adotaram
o esquema de racionamento são Engenheiro Coelho, Itu,
Rio das Pedras, Saltinho, Santo Antônio de Posse e São
Pedro. Na iminência de adotar a medida estão
Sumaré e Holambra.
Em Itu, além do nível
do reservatório estar em 40% de sua capacidade, o rodízio
foi implantado porque não há dinheiro para a
compra de produtos para o tratamento da água, segundo
o prefeito Lázaro Piunti (sem partido).
O pior quadro é o de Rio das
Pedras, onde o Saae (Serviço Autônomo de Água
e Esgoto) adotou ontem o racionamento de oito horas diárias.
As torneiras ficam "secas" na cidade das 8h às
16h. O município tem quatro reservatórios.
Poço
"Desde julho implantamos o racionamento
das 9h às 13h, mas essa medida não foi suficiente",
declarou o diretor do Saae, Antonio Sérgio Angeleli.
O Saae está contratando profissionais
especializados para a perfuração de um poço
artesiano na cidade e a recuperação de outro,
que está desativado.
Na semana passada, dois municípios,
Saltinho e São Pedro, aderiram ao racionamento. Em
Saltinho, o reservatório está praticamente seco.
O fornecimento de água é interrompido das 9h
às 16h. Em São Pedro, a água não
chega às residências entre as 13h e as 17h.
Em Engenheiro Coelho, a estiagem agravou
o problema natural de escassez de água. Há três
meses, a cidade tem o abastecimento interrompido das 9h às
16h por causa da precariedade da estação de
tratamento de águas.
Atualmente, a estação
libera 50 mil litros de água por hora, sendo que a
necessidade do município é de pelo menos cem
mil litros por hora.
Conscientização
Com dois córregos como fonte
de abastecimento, Santo Antônio de Posse aderiu ao racionamento
como forma de conscientizar a população. Na
cidade são consumidos 315 litros d'água por
habitante diariamente. No entanto cálculos do DAE (Departamento
de Água e Esgoto) apontam que seriam suficientes 500
litros diários para uma família de quatro pessoas.
Em virtude disso, das 12h às
14h o abastecimento é cortado. O racionamento deve
durar até a Prefeitura de Santo Antônio de Posse
se estruturar para a construção de dois reservatórios
com capacidade de 500 mil litros cada um.
Outros municípios da região
também sinalizam para o racionamento. Holambra estabeleceu
"um prazo" de até o próximo dia 15
sem racionamento. Se até essa data não chover,
haverá cortes.
Em Sumaré, as regiões
da Área Cura e Matão e o distrito de Nova Veneza,
que correspondem a 60% da cidade, estão prestes a adotar
o racionamento porque são abastecidas pelo rio Atibaia,
que, em alguns pontos, como em Campinas, pode ser atravessado
a pé. Em Vinhedo, na semana passada, alguns pontos
do centro da cidade ficaram sem água porque o reservatório
da Estação de Tratamento de Água 2 está
com nível baixo, além de receber cargas altas
de esgoto pelo córrego do Moinho.
Mais trabalho
Com o corte de água no período
mais produtivo do dia, a população de Rio das
Pedras e de Engenheiro Coelho se desdobra para não
ver o rendimento do trabalho cair por causa das torneiras
secas.
A costureira de vestidos de noiva
Maria da Luz Viana, 59, de Rio das Pedras, faz jornada dupla
por causa da falta d'água durante o dia. "Não
tenho caixa-d'água e tenho que armazenar à noite
para lavar os vestidos, que as clientes não lavam antes
de me entregar", afirmou a costureira.
Já na padaria do pai de Regina
da Silva Fávero, 40, a economia e a falta de água
são uma rotina. "Já acontece isso há
dois anos. Estou acostumada a recolher água à
noite", afirmou.
CAROLINA FARIAS
da Folha de S.Paulo, em Campinas
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