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O secretário de Cultura
de São Paulo, Emanoel Araújo, 64, renunciou
ao cargo ontem por meio de uma carta dirigida ao prefeito
de São Paulo, José Serra (PSDB), e enviada exclusivamente
à Folha.
Na carta de seis páginas, o agora ex-secretário
de Cultura justifica sua saída da pasta. O documento,
no entanto, não foi enviado por ele a Serra, que não
quis comentar a demissão -primeira baixa da administração
tucana na cidade.
Celebrado no meio cultural como autor da transformação
da Pinacoteca do Estado nos anos 90, o artista plástico
e curador Emanoel Araújo foi pivô de polêmicas
com os tucanos desde que foi anunciado como futuro gestor
da pasta da Cultura do governo Serra.
Durante o período de transição, Araújo
não escondeu seu apoio à candidatura de Marta
Suplicy (PT) à reeleição. Depois de assumir
a pasta, rivalizou publicamente com a gestora estadual da
Cultura, Cláudia Costin.
A gota d'água da demissão de Araújo,
no entanto, ocorreu na última sexta-feira, durante
reunião de Serra com seu secretariado para avaliação
dos cem primeiros dias de governo.
Na ocasião, o prefeito -conhecido por seu perfil centralizador-
anunciou duas medidas na área da cultura que Araújo,
então secretário da pasta, desconhecia: a instalação
do acervo do MAC (Museu de Arte Contemporânea) e a ampliação
do MAM (Museu de Arte Moderna) no pavilhão da Prodam
(Companhia de Processamento de Dados do Município)
no parque Ibirapuera e uma articulação entre
a prefeitura e a Fundação Roberto Marinho para
criar dois museus (o Museu da Criança e o Museu do
Futebol) no Quintal da Luz (centro).
"Devolvo-lhe esta secretaria desejando que se faça
mesmo o Museu da Criança na "cracolândia",
mas rogo que não se esqueça de incluir nesse
espaço essas crianças abandonadas ao infortúnio
da sorte", escreveu Araújo.
"Faça o Museu do Futebol, mas não esqueça
a Pinacoteca Municipal guardada na reserva técnica
do Centro Cultural São Paulo", provocou o ex-secretário.
"Coloque na Prodam o MAM e o MAC (...). Faça-o
como se faz usualmente com o arranjo de um quarto de despejo,
mas não toque com sua impropriedade no Museu Afro-Brasil
porque este é uma conquista de anos", ameaçou.
Foi no Museu Afro-Brasil, do qual Araújo é criador
e diretor, que o desentendimento entre Serra e o ex-secretário
ficou evidente. No sábado, convidado para o lançamento
do catálogo "Brasileiro, Brasileiros", Serra
não apareceu.
Na carta dirigida ao prefeito, Araújo discorre sobre
a infra-estrutura da secretaria -que chama de "espaço
tratado como pocilga"- e ataca seu antecessor, o secretário
da gestão Marta Suplicy (PT), Celso Frateschi.
"A minha saída justifica-se por ter sido internado
sem nenhuma infra-estrutura numa secretaria desprovida de
recursos humanos, "apagando incêndios" deixados
pelo meu antecessor, que eu, ingenuamente, desconhecia. Mas,
como ele é ator, soube interpretar muito bem o seu
papel."
FERNANDA MENA
da Folha de S. Paulo
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