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A equipe de transporte do governo
José Serra (PSDB), em São Paulo, considera inviável
implantar a integração do bilhete único
à rede estadual sobre trilhos pela tarifa de R$ 2,
cobrada do cartão exclusivo de ônibus e de lotações,
e cogita adotá-la pela mesma quantia de R$ 3,60 do
passe que já permite atualmente uma viagem de ônibus
e outra de metrô com um desconto de apenas R$ 0,50 sobre
os valores somados de cada transporte.
A avaliação se dá
depois de os estudos para a integração, bandeira
de campanha do tucano, terem sido entregues ao prefeito.
Segundo Ulrich Hoffmann, presidente
da SPTrans (São Paulo Transporte, empresa municipal
que cuida do setor), a "análise técnica
e operacional já está resolvida", após
negociações entre técnicos da prefeitura
e do Estado, faltando somente a decisão política
de qual será a passagem cobrada na integração,
prometida para 2005 e que Serra tenta viabilizar ainda neste
primeiro semestre.
O custo para instalar catracas no
Metrô e na CPTM que façam a leitura do bilhete
único é o mesmo orçado em 2004 (R$ 14
milhões), quando as gestões Marta Suplicy (PT)
e Geraldo Alckmin (PSDB) não chegaram a um acordo sobre
quem bancaria a quantia.
Os estudos feitos neste ano apontaram
os impactos financeiros dependendo do valor escolhido da integração.
Na prática, quanto menor a quantia cobrada dos passageiros,
mais haverá subsídios municipais ou estaduais.
Hoffmann se nega a revelar oficialmente as opções
que considera mais atrativas, mas já adota um discurso
conformista, de quem vê vantagens no valor de R$ 3,60
hoje, a passagem unitária do ônibus custa R$
2,00 e a do metrô e do trem, R$ 2,10.
"O nosso interesse era poder
fazer isso à tarifa mais baixa possível. Mas
ela tem que ser viável do ponto de vista do Orçamento
de 2005. Não adianta só tomar uma resolução.
E depois? Quem tapa os buracos?"
"Tomar um ônibus e um metrô (pelo passe integrado
de R$ 3,60, que já existe hoje ) é diferente
de tomar, com um bilhete único, dois, três, quatro
ônibus, e ainda um metrô", disse Hoffmann.
Hoje, segundo a SPTrans, a tarifa
integrada ônibus/metrô de R$ 3,60, que não
permite a utilização simultânea dos demais
benefícios do bilhete único, representa apenas
0,8% do total de usuários.
A possibilidade de adotá-la
na integração do cartão inteligente prometida
por Serra, na prática, significaria uma vantagem econômica
somente para quem precisa fazer duas ou mais transferências
numa única viagem. Ou seja, quem, além do metrô
ou do trem, ainda tem que usar ao menos mais dois ônibus
ou lotações para chegar ao destino final, tudo
no intervalo máximo de duas horas.
Questionado se os impactos de uma
passagem integrada a R$ 3,60 não seriam muito reduzidos
diante do compromisso eleitoral do tucano, Hoffmann rebate:
"Não, não! Nossa! Temos gente tomando quatro,
cinco conduções. Há muitos deslocamentos
em que metrô é interessante com mais de um ônibus".
Segundo a última pesquisa origem/destino
do Metrô, de 2002, 6,35% das viagens diárias
do transporte coletivo em São Paulo abrangiam duas
ou mais baldeações. Esse percentual, entretanto,
inclui as transferências gratuitas dentro da rede de
trem e metrô. Entre os que usavam os ônibus como
modo principal de deslocamento na região metropolitana,
essa proporção era de 1,66%.
Promessa de campanha
Na campanha eleitoral, Serra adotou como discurso
a integração entre ônibus, trem e metrô
com um só bilhete e uma só tarifa. A propaganda
era considerada ambígua e chegou a ser interpretada
por muita gente como se a promessa fosse ampliar os benefícios
do bilhete único à rede sobre trilhos pelo mesmo
valor da passagem cobrada do cartão exclusivo dos ônibus
e peruas.
Hoje, a possibilidade de adotar
a integração por R$ 2 (R$ 1,70, na época)
é descartada não só sob a justificativa
financeira.
Os tucanos reconhecem, porém, um ônus político
na adoção de uma tarifa integrada acima de R$
2, em razão da imagem criada na população
desde a campanha eleitoral.
ALENCAR IZIDORO
da Folha de S. Paulo
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