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Miniconto
Pára de pensar, menino!
O menino da cabeça
de vento tinha três
redemoinhos bem
no meio do cabelo. Pra
completar aquele fenômeno
esquisito, o cabelo dele
crescia, feito nariz quando
o dono conta muita mentira.
A noite passava e nada
de Chanel: o menino acordava
a cara da Rapunzel!
E de nada adiantava cortar
o cabelo daquele menino,
pois só fazia perder
tempo do barbeiro Severino.
De olhar a tesoura
não dava outra: brotavam
centenas de fios, novinhos
em folha. O cabelo
ficava ainda pior depois
de tomar chuva, fazendo
daquela cabeça um xaxim
e sua samambaia murcha.
E quando Severino folgava
era um desespero e aquela
cabeleira crescia que era
um exagero.
O médico da família nada
mais podia fazer: nem
tomando conhecimento o
menino ficava careca de saber!
Resolveu insistir mesmo
assim: 'O que será que
se passa naquela cabeça de
pudim?' Pediu uns exames
e receitou o antídoto dum
tônico capilar pra acabar
de vez com a novela: 'O átono
carecar, minha gente, é
tiro e queda!'
No entanto, praquela cabeleira
nada funcionava:
nem átono carecar nem
reza brava!
Então o menino, que não
agüentava mais viver com
tanta minhoca na cabeça,
resolveu tirar proveito
daquilo tudo e decidiu dar
jeito, ele mesmo, no problema
cabeludo. Naquela
noite, os vizinhos mal
conseguiram dormir por
causa dum cheiro pra lá de
fedido; passaram a madrugada
toda gritando: 'Pára
de pensar, menino!'
Mas, para surpresa de
todos, da noite pro dia,
aquela coisa tão maluca
acabou virando uma fábrica
de perucas! Em um mês,
o que deixou sua família
rica não foi vento, nem rede,
nem moinho, foi titica!
Definitivamente cabeça
oca o menino não tinha;
os exames mostraram que
sua cachola era cheia de
cocô de galinha! A titica
adubava a raiz dos cabelos
e o cocuruto, deixando o
menino com a imaginação
bem fértil, bem arguto.
Mas a alegria durou
pouco... De repente, o estoque
de perucas começou
a encalhar, sobrando
chumaço de cabelo aqui e
acolá. Não havia mais rastro
de calvície nas adjacências,
levando a fábrica
da família à falência.
Então o menino, cheio de
idéias sem pé nem cabeça,
teve um revestrés: trocou
os pés pelas mãos e a cabeça
pelos pés. No lugar da
fábrica para enfeitar cacholas
criou uma indústria
de limpador de solas. Os
cabelos, que antigamente
viravam penachos, hoje
ganham nova vida em fantásticos
capachos!
MARIA AMÁLIA CAMARGO é escritora e escreveu, entre
outros, "Laranja-Pêra Couve Manteiga" (editora Girafinha) e
prepara o lançamento de "Companhia Três Marias".
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