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"O MAPA DO AGORA"
Mostra em cartaz no Instituto Tomie Ohtake apresenta produção nacional desde o pós-guerra
Exposição aborda arte de modo simplista
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"O Mapa do Agora" apresenta a arte brasileira desde o pós-guerra de modo simplista. Seleciona peças de importância desigual para propor uma sequência que vai da I Bienal de São
Paulo até 2002.
A coleção João Sattamini é base
da pesquisa curatorial. Está hoje
abrigada no Museu de Arte Contemporânea de Niterói e inclui
autores conhecidos.
Contudo os critérios de relevância adotados são obscuros. Enquanto o segmento dedicado à
abstração conta com obras de interesse, o núcleo contemporâneo
aposta em nomes famosos representados por produções menores.
"Heranças Modernistas e Emergência da Abstração" abre a mostra defendendo ponto de vista
consagrado sobre a origem da arte contemporânea nacional. Segundo tal versão evolucionista, a
Bienal de São Paulo de 1951 permitiu avaliar "qual grau de modernidade o Brasil realmente lograra alcançar e, com isso, quais
limites e possibilidades se mostravam disponíveis".
A abstração é apresentada como resposta inicial às disponibilidades estéticas brasileiras. Divide-se em informal e geométrica.
O informalismo agrupa obras
elucidativas. A exploração dos
materiais pictóricos é representada pelos grossos borrões de marrons e pretos na "Forma Rompida" (1964), de Iberê Camargo.
Os geométricos enfileiram-se
em diálogo harmônico. A única
dissonância é Maria Leontina:
"Da Paisagem e do Tempo"
(1960) não nos deixa esquecer de
que o período foi marcado pela
disputa entre figurativos e abstratos, apesar do tom hegemônico
adotado pela curadoria.
"Experimentalismo" tematiza a
superação das mídias tradicionais
da arte, como o quadro de cavalete, a partir dos anos 60.
A oposição política ao regime
militar seleciona pesquisas de impacto na época. Entre os mais engajados, vemos a instalação "Repressão Outra Vez: Eis o Saldo"
(1968), de Antônio Manuel, e a
"Trouxa Ensanguentada" (1969),
de Artur Barrio.
Entretanto não se menciona nos
textos explicativos a importância
do surrealismo. O período entre
as décadas de 60 e 70 é descrito
apenas em termos da aliança entre as heranças da abstração, do
pop e do conceitual. Mas a presença da psicanálise emerge para
o espectador mais atento em "Suponhamos que o Inconsciente Seja uma Auto Clave" (1966), de
Wesley Duke Lee, e no "Você!"
(1972), de Farnese de Andrade.
"Novos Debates" fecham a
mostra em declive. A coleção
Sattamini parece empobrecer
na parte dedicada à contemporaneidade. As obras de Beatriz
Milhazes, Ernesto Neto e Tunga mal deixam suspeitar o potencial artístico dos representados.
A pintura é privilegiada nesse último segmento. O debate
acerca dos novos rumos da mídia é tematizado pela aproximação entre Leda Catunda,
Leonilson, Nuno Ramos e Paulo Monteiro.
O Mapa do Agora
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av.
Faria Lima, 201, Pinheiros, tel. 6844-1900)
Quando: de ter. a dom.: das 11h às
20h; até 3/11
Quanto: entrada franca
Patrocinador: Petrobras
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