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Nuno Ramos mistura Coca-Cola, petróleo e formol para driblar a morte
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de um ano de morte,
Nuno Ramos diz acreditar na
vida plástica. Ele montou, em
Brasília, um viveiro de urubus
ao som de marchas fúnebres e,
no Rio, um monte de feno ceifado por mulheres de preto, mas
agora cria algo mais "pra cima".
"Sem demagogia, quis dizer
"foda-se" à morte", afirma. No
galpão da Fortes Vilaça, o artista montou três grandes chapas,
uma de vidro, outra de mármore e a terceira de quartzo. Cada
uma é atravessada por um tubo
de vidro que mistura líquidos
opostos: na ordem, formol e soro fisiológico, oposição entre
morte e vida, Coca-Cola e petróleo, o industrial contra o
geológico, e vinagre e vaselina,
o azedo e o erótico.
Além das chapas, presas à
parede por dobradiças metálicas -um aceno a Lygia Clark
e Amílcar de Castro-, está no
galpão o vídeo da performance
"Fodasefoice", aquela do feno:
uma mulher se movimenta de
acordo com o grito "foda-se",
enquanto a outra é acionada
pelo "foice" que sai de duas
caixas de som.
"É uma coisa com o tempo,
não é bem uma performance,
é mais uma poesia dramatúrgica", descreve Ramos, que lança
no mês que vem mais um livro
de ficção, "Ó", em que desdobra
suas formas numa prosa
poética sobre "arquitetura
ruim e vida extraterrestre".
"É nesse pingue-pongue que o
trabalho funciona."
Por isso é bem pouco hermética a instalação, que chega a estampar etiquetas com o nome
dos líquidos dentro das ampulhetas, a multidisciplinaridade
típica da obra do artista.
"Isso ajuda a colocar o ato escultórico no horizonte poético", diz. "Acredito na vida plástica mas também acredito na
possibilidade de a vida plástica
se incrustar na poesia."
(SM)
NUNO RAMOS
Quando: de ter. a sex., das 10h às
19h; sáb., das 10h às 17h; até 27/9
Onde: Fortes Vilaça (r. James Holland, 71, tel. 3392-3942; livre)
Quanto: entrada franca
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