São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

Próximo Texto | Índice

Ciclo exibe até janeiro sete filmes de Jacques Tati, cineasta francês conhecido por seu Monsieur Hulot

As férias do Sr. Hulot (em São Paulo)

Divulgação
"Playtime" (1967), filme do cineasta francês Jacques Tati (1908-1982), que é tema de mostra retrospectiva com sete filmes em São Paulo


ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

As férias em São Paulo ganham a inusitada e agradável companhia do Monsieur Hulot, personagem que acabou por se fundir ao seu criador, o cineasta francês Jacques Tati (1908-1982), tema de uma retrospectiva que o Cinemam organiza a partir de hoje, com exibições de sete filmes no MAM e na PUC.
Ícone da comédia francesa, Jacques Tati traduziu para a tela as impressões de um "maladroit" -ou alguém apenas lúcido demais- sobre a vida moderna, em filmes que conquistaram os espectadores (como "As Férias do Sr. Hulot" e "Meu Tio", grandes sucessos à época em que foram lançados) e que são frequentemente identificados como críticos ao consumismo e à mecanização da vida.
Tendo começado a filmar no início da década de 30, Tati chegou a ser jogador de rúgbi e mímico, atividades que lhe conferiram ainda mais habilidade para as performances de M. Hulot: tentando entender e se embrenhar na "diversão" de praias e estradas lotadas pelas férias de verão ("As Férias do Sr. Hulot", de 53) ou em confusões com turistas em visita a Paris, em "Playtime", de 67; evidenciando a presença massiva das quinquilharias eletrônicas na vida moderna (a casa de seu sobrinho em "Meu Tio", de 1956, cheia de bizarrices acionadas quando as visitas chegavam, talvez seja o maior exemplo disso) ou perdido no meio das criações e recriações automobilísticas em "As Aventuras de M. Hulot no Tráfego Louco", de 1971.
Neste ano, completam-se duas décadas da morte de Jacques Tati, que até seus últimos dias permanecia endividado pelos altos custos de "Playtime", seu projeto mais ambicioso, que contou com a recriação de bons pedaços da capital francesa, representada no filme de modo ultrafuturista. A data foi lembrada em Cannes, que homenageou o cineasta.
No Cinemam, são exibidos os quatro longas supracitados, além de três curtas, todos com cópias em DVD. "Sparring por um Dia", de 36; "Escola de Carteiros", de 47, e "Curso Noturno", de 67.
O lançamento dos filmes em DVD, pela Continental, coincidiu com o desejo de o Cinemam realizar uma mostra de Tati, segundo um de seus organizadores, Carlos Barmak, diretor do Educativo do MAM. "Já havíamos apresentado "Playtime" em 16mm e agora queríamos trazer os filmes menos exibidos, pois são muito raras as projeções públicas dessas produções", diz. Um folder com texto de Ruy Castro sobre Jacques Tati acompanha a programação.

M. Hulot em São Paulo?
Os filmes estão aí. Mas e se o próprio M. Hulot viesse parar em São Paulo?
Apesar de distantes, o senhor Hulot e a cidade parecem se aproximar ao observar, em silêncio (quase não há palavras nos filmes de Tati), o caos e a vida cotidiana, rápida e cheia de modernices inexplicáveis, estas coadjuvantes nos filmes de Tati e parte integrante da São Paulo atual.
"Ele teria o maior prazer em jogar uma bomba na cidade, pois teria horror à arquitetura, a esses prédios imensos e fininhos, que são um desrespeito à própria cidade de São Paulo", diz Rogério Sganzerla, diretor de "O Bandido da Luz Vermelha".
"Acho que ele trabalharia, se viesse para cá. Todo mundo vem para São Paulo para trabalhar, então acho que é o que ele também faria", sugere Anna Muylaert, diretora do filme "Durval Discos".
Carlos Barmak, que promove a mostra, aposta numa possibilidade mais bucólica. "Ele talvez voltasse as costas para a cidade e fosse relaxar dando comida para os patos do lago do Ibirapuera. Eles, apesar de poucos, ainda têm algo de sutil, acho que o M. Hulot iria curti-los."



Próximo Texto: Crítica: Imagens do diretor constroem espetáculos inesgotáveis
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.