JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Teatro Municipal de São Paulo apresenta hoje e amanhã programa com três peças orquestrais brasileiras raramente executadas e que tiveram suas partituras digitalizadas e editadas pelo Projeto Memória Musical.
A Orquestra Sinfônica Municipal, regida por Lutero Rodrigues, trará "Chant Elegiaque", de Savino de Benedictis, a "Sinfonia nº 5", de João Gomes de Araújo, e o "Concerto para Violino", op. 28, de Henrique Oswald, com o violinista Erich Lehninger. Obras de compositores com influência italiana. Benedictis (1883-1971), embora naturalizado brasileiro, é italiano de nascimento. Araújo (1846-1943) e Oswald (1852-1931) foram para a Itália como bolsistas de d. Pedro 2º.
Não foi por falta de qualidade musical que eles caíram no esquecimento. De um modo geral, foram vítimas da patrulha da corrente nacionalista, que, com o modernismo, se impôs e a seguir tornou-se corrente estética oficial do Estado Novo (1937-1945).
A edição de peças quase esquecidas é um ato de afirmação cultural. Não é mais preciso espinafrar o passado para firmar a identidade da produção contemporânea.

Restauro
Há em São Paulo ao menos dois projetos paralelos de restauro, digitalização e interpretação do acervo. A idéia é editar, com a correção de erros, manuscritos que apodrecem em arquivos.
Na estrutura do governo do Estado e da Osesp funciona a Editora Criadores do Brasil, fundada no CDM (Centro de Documentação Musical Maestro Eleazar de Carvalho). Foi graças ao CDM que a Osesp tem interpretado partituras que haviam desaparecido.
Por sua vez, o Projeto Memória Musical, lançado por Erich Lehninger em 98 e que reúne um conjunto de patrocínios -Volkswagen, Ultragaz, Infraero, Siemens, banco BLN, Petroquímica União-, tem preocupação parecida. Estão no alvo de suas pesquisas gigantes da música sinfônica brasileira injustamente pouco interpretados, como Alberto Nepomuceno, Francisco Mignone e Guerra Peixe.