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São Paulo experimenta crescimento de noite diversificada e estendida por toda a semana que lembra os agitados anos 80
A festa nunca termina
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Os termos "Swingin" London" e
"Nova York, a cidade que nunca
dorme" estão definitivamente
emprestados para São Paulo.
Chacoalhada ao som da música
eletrônica e agora por um gás roqueiro que há anos não se sentia, a
cidade assiste ao nascer de bares e
clubes e noites e festas aos montes, espanta-se ao ver lotar lugares
de todas as tendências do pop e,
melhor, não vê esses mesmos locais fecharem dois, três meses depois da badalação.
Tem para todo mundo, todas as
noites, a semana inteira. O ânimo
para a noite paulistana faz lembrar os agitados anos 80, mas mais ampliado e mais bem informado.
A música eletrônica há anos segue organizada e latente. E percebe-se aqui que o rock vive seus
melhores dias quando, numa madrugada normal de segunda para
terça-feira, recebe cerca de 600
pessoas em um clube, como aconteceu recentemente no D-Edge. A
casa, tradicionalmente um reduto
de eletrônica, tem sacudido a vizinhança às segundas, com rock.
"Tenho sentido essa vibração
diferente quando discoteco pelos
clubes", afirma o radialista Kid
Vinil, conhecido agitador cultural
da cidade, que atravessou os 80,
90 e até hoje quase sempre acumulando funções de jornalista,
vocalista de banda, apresentador
de programa de clipes e produtor.
"São Paulo tinha um vício ruim.
Uma casa era inaugurada, badalada por uns dois meses, saía de
moda e era esquecida, até fechar",
Kid Vinil dá seu testemunho.
Outros lugares vêm experimentando superlotação e recordes.
O recorde de uma sexta-feira
dessas de julho último mostrou
que o bar Funhouse, na noite indie-rock Revolution, fez circular
em seu espaço cerca de 340 pessoas. Perto dali, 380 baladeiros
dançavam o gênero electro no
Xingu, no centro, a mais festejada
casa (mais ou menos) nova de São
Paulo. Na Vila Olímpia, o som ouvido era tech-house, o clube era a
Lov.e, e o público itinerante de
450 a 500.
"Pela experiência que a gente
adquiriu nesses anos, dá para dizer que, quando as coisas estão
ruins na vida real, é o momento
em que a noite mais acontece.
Porque as pessoas precisam extravasar de alguma maneira, precisam sublimar seus problemas",
explica Erika Palomino, colunista
da Folha.
Na citada noite de sexta-feira de
julho, numa espécie de pré-inauguração do Unique Club, uma
festa fechada provocava o balanço
de cerca de 500 pessoas, ao som
de electro, eletrônica e rock.
O Unique Club é o 150 Night
Club (Maksoud Plaza) dos tempos modernos. No subsolo do hotel Unique, um clube que pode
desdobrar sua capacidade de 400
a 4.000 lugares foi inaugurado recentemente para festas mensais
com atrações internacionais.
"O que está acontecendo é que
hoje em dia tudo está se juntando.
Na mesma casa você tem uma
noite de hip hop, uma noite electro, uma noite tecno, outra rock.
Todos os segmentos atravessam
uma boa fase", afirma Angelo
Leuzzi, articulador do Unique
Club e o responsável pela abertura do bem-sucedido clube Lov.e,
além de, nos anos 80, ter sido dono do Rose Bom-Bom.
Assim como o hotel, outra marca extramúsica que aproveita o
embalo da febre noturna paulistana é a grife A Mulher do Padre
(Amp). No andar térreo de sua loja em Pinheiros, inaugurou há
três meses um bar movido a DJs,
geralmente de eletrônica, mas que
também abre espaço para grooves
da black music e até brasileira (às
quartas). Tem nome de Ampgalaxy, vive abarrotado e é usado
para o pré-clube, para "aquecer".
Sempre cheio, o Ampgalaxy, o
bar, se transforma em clube nas
noites adentro das terças, sextas e
sábados, quando abre sua pista
subterrânea para agitos tecno.
Talvez o boom das casas e festas
sonoras que balança São Paulo
encontre uma razão temporal em
dois pilares. O da onda electro,
resgate modernizado do tecnopop dos anos 80 que encontra respaldo em duas tribos: a dos roqueiros e da eletrônica. E o do
reerguimento do rock em si, desde que grupos novos liderados
pelos Strokes revigoraram a cena
a partir de 2000/2001.
Para um gênero que não faz
dois anos comemorava quando
conseguia reunir cem pessoas, em
um fim de semana, no último sábado o rock levou considerável
contingente a sete clubes diferentes -Funhouse, Trip Dancing
Club, Torre do Doutor Zero, Inspiral, DJ Club, Matrix e Juke Joint.
Todos com bandas tocando e DJs
animando as pistas.
Pode acreditar: qualquer que seja o dia em que você estiver lendo
textos como este, vai ter sempre
um lugar à noite para ir dançar.
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