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"A MÁFIA VOLTA AO DIVÃ"
Sequência da produção de 1999 está entregue à experiência de Robert de Niro e Billy Crystal
Filme extravasa a típica violência americana
Divulgação
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O mafioso Paul Vitti (Robert de Niro) e seu psicanalista, Ben Sobel (Billy Crystal), em "A Máfia Volta ao Divã", filme de Harold Ramis |
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
"A Máfia Volta ao Divã"
confirma o prognóstico
do primeiro filme da série: quem
de fato precisa de uma análise não
é tanto o mafioso interpretado
por Robert de Niro, Paul Vitti,
quanto seu psicanalista Ben Sobel
(Billy Crystal). Não é a máfia que
volta aqui ao divã, mas o fascínio
que exerce no público americano.
Ver Paul Vitti socando um brioche na boca de um de seus desafetos nos remete, não por acaso, à
espantosa cena de "Inimigo Público" (1931) em que James Cagney socava uma "grapefruit" na
boca de Mae Clarke. A referência
ao clássico filme de gângster serve
para lembrar que já vai longe a
história desse fascínio do público
americano. A criação do código
hollywoodiano de autocensura
em 1934 só fez recalcar por um
tempo essa violência, tornando-a
mais implícita, mais latente, mas
também mais disseminada.
Em "A Máfia no Divã", o psicanalista Sobel curava o mafioso
Vitti de uma síndrome do pânico
e satisfazia, ao mesmo tempo, seu
próprio desejo reprimido (seu
"black wish") de ser tão bruto e
violento quanto os gângsteres.
Assim, a verdadeira terapia consistia na forma como o mafioso
Vitti convencia o psicanalista a
não reprimir seus instintos.
Nesta sequência, Sobel volta a
ter a oportunidade de extravasar a
sua agressividade contida. Ele obtém, com Vitti, a catarse que o público costuma encontrar na violência representada nas telas.
Sobel surra um bandido por
não suportar que ele esteja sempre a mudar as regras do jogo. Sua
violência é pior do que a de Vitti,
porque imbuída do direito de
quem se pretende do lado da lei e
da ordem. É uma violência, como
sabemos, tipicamente americana.
De resto, os dois filmes da série
são bastante fracos. O primeiro
ainda fingia narrar uma história.
O segundo, nem isso. Mas, entregue à experiência dos atores, a série parece estar em melhores
mãos que nas de Harold Ramis.
A Máfia Volta ao Divã
Analize That
Produção: EUA, 2002
Direção: Harold Ramis
Com: Robert de Niro, Billy Crystal
Quando: em cartaz nos cines Frei
Caneca Unibanco Arteplex, Anália
Franco, Jardim Sul e circuito
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