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Mais antigo restaurante da capital pode reabrir em breve; casas tradicionais estão fechando ou fugindo do centro
Carlino, 121, pendura as panelas em SP
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
O restaurante Carlino, o mais
antigo de São Paulo, pendurou
suas panelas após 121 anos de funcionamento. A expectativa dos
proprietários é reabrir o restaurante em outro local em dois ou
três meses. O fechamento aconteceu há duas semanas, quando o
co-proprietário Antônio Carlos
Marino, 57, serviu as duas últimas
refeições: coelho a la lucchesi e
cordeiro a cacciatora, ambos ensopados e dois dos itens mais tradicionais do centenário cardápio.
Agora, pelo menos por esses
meses, quem segura o posto de
restaurante mais antigo da cidade
é a cantina Capuano, de 1907, que
já funcionou no centro e está há
38 anos na rua Conselheiro Carrão, 416, no Bexiga.
E é bom ficar de olhos abertos.
Nos últimos dois anos, diversos
restaurantes tradicionais têm sido
fechados, especialmente no centro e nos bairros da região central
de São Paulo, como Bistrô, Paddock, Da Giovanni, Parreirinha e
Balilla (veja texto nesta página).
"O Carlino não acabou", diz
Marino, dono do local, com outros dois sócios, há 25 anos. "Já estou procurando um lugar para
reabrir com o mesmo cardápio e a
mesma cozinha. Estou visitando
casas em Higienópolis, Pacaembu, Perdizes. Fui ver até um lugar
em Moema." Segundo ele, os 12
funcionários não foram demitidos; estão em férias coletivas.
A razão do fechamento é a deterioração do centro nos últimos oito anos. "Desde que foi implantado o real, minha clientela caiu entre 60% e 70%. Os cinemas estão
fechando e virando igrejas, estacionamentos e bingos, as grandes
empresas foram embora", diz.
"Fomos tentando ficar, mas há
muitas dificuldades para a clientela vir aqui à noite. Há falta de estrutura e a mudança de população fez aumentar os assaltos e a
violência."
Para Marino, não havia mais lugar no centro para a cozinha italiana clássica do Carlino. "Fazíamos molhos e filés na hora, e o
centro agora quer tudo mais rápido, comida fast food. Minha cozinha não cabe mais lá."
Êxodo
Aberto em 1881 na avenida São
João, em frente ao Largo do Paissandu, o restaurante ganhou esse
nome por causa do apelido do dono, Carlo Cecchini, vindo da Toscana. Em 1960, o restaurante se
mudou para a av. Dr. Vieira de
Carvalho, 154, onde funcionou até
há duas semanas.
Na Vieira de Carvalho, pode-se
constatar um êxodo de restaurantes. "A Casa Ricardo foi embora, o
Almanara saiu, o Rubaiyat é que
foi o mais esperto. Foi o primeiro
a sair daqui, há uns seis anos." No
mês passado, foi a vez da Gelateria
Parmalat abandonar a avenida.
"O pessoal não vai mais ao centro à noite por causa da violência.
E de dia há a concorrência dos
"quilos'", diz Antônio Buonerba,
62, proprietário do Jardim de Napoli, que trocou o centro por Higienópolis em 1968. "É preocupante uma cidade gastronômica
como São Paulo perder essas referências históricas."
Derivan de Souza, 47, dono do
Bistrô, fechado no ano passado,
também cita a concorrência dos
restaurantes por quilo. "Além disso, muitas empresas saíram do
centro e nosso clientes trabalhavam nelas."
Segundo a Associação de Bares
e Restaurantes Diferenciados do
Estado de São Paulo, existem 70
mil estabelecimentos do tipo na
capital, empregando 560 mil pessoas. De cada cem novos restaurantes ou bares que são abertos,
apenas cinco sobrevivem por
mais de cinco anos.
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