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Mostra exibe série com 10 filmes de jovens documentaristas latinos
Dentro do Festival de Cinema Latino-Americano, títulos debatem identidade
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
O que significa ter uma nacionalidade? O estímulo a encontrar símbolos ou comportamentos de uma identidade nacional acompanha a história
dos países do Terceiro Mundo
desde o início da descolonização. Mas o que ela ainda traz de
específico no século 21, quando
se tornou mais difícil localizar
uma identidade que uma agulha no palheiro?
É a tal enigma que se entregam os jovens realizadores que
aceitaram o desafio da série
"Os Latino-Americanos", produzida pela TAL (Televisão
América Latina). Dez títulos já
concluídos pré-estréiam no 3º
Festival de Cinema Latino-Americano: argentinos, bolivianos, colombianos, cubanos,
equatorianos, mexicanos, paraguaios, peruanos, uruguaios e
venezuelanos.
Desta primeira dezena, a Folha teve acesso à metade. Nestes, o sinal comum mais evidente é a sobreposição da fragmentação à utopia da identidade. E é daí que o conjunto adquire sua maior força.
Em vez de ceder aos encantos do folclórico ou buscar nas
raízes uma suposta identidade
fundada em bases míticas tampouco certas, os jovens documentaristas do projeto preferiram auscultar o presente. É a
partir dele que se deixa de lado
a equívoca tentativa de se encontrar a alma de um povo, seja
ele venezuelano, uruguaio ou
mexicano e se consegue obter
um retrato bastante justo de
identidades que, se existem, só
se mapeiam no plural.
A estratégia comum aos trabalhos é percorrer os países,
entrevistando gente comum.
Enquanto as perguntas tentam
definir o "uruguaio", o "cubano" etc., as respostas permanecem no terreno dos estereótipos ou da generalidade, como
"somos gentis", "somos acolhedores", "somos criativos".
Logo abaixo outra camada de
significados emerge, quando a
voz dos personagens ocupa a
cena e torna muito mais reveladoras suas experiências, seus
anseios, suas mágoas e outros
tantos sentimentos vividos.
Cada trabalho não perde de
vista as especificidades locais,
como práticas religiosas, misturas étnicas, efeitos de migrações, de políticas econômicas e
de injustiças sociais. Mas o faz
na perspectiva do sujeito, sem
nunca dissolvê-lo sob instâncias generalizantes.
Ao desfocar o fator nação e
transferir a atenção para a
perspectiva individual, a série
desloca-se para a realidade, na
qual os simbolismos ufanistas e
os delírios fascistas do passado
recente, até prova ao contrário,
viraram velharias guardadas
no baú.
OS LATINO-AMERICANOS
Quando: estréia com "Os Uruguaios"
hoje, às 20h30, para convidados
Onde: 3º Festival de Cinema Latino-Americano; Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade,
664; tel: 3823-4600; programação e classificação indicativa em www.memorial.sp.gov.br)
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