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MÚSICA
Protagonista da "bossa de protesto" dos anos 60, o artista que quebrou o violão em festival de 67 volta em show e CD
Sérgio Ricardo revisa 45 anos de MPB
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O homem de 70 anos que se
apresenta hoje, ao entardecer, no
Sesc Pompéia, anda meio sumido
do circuito, mas acumula na memória histórias que atravessam
toda a chamada "moderna MPB".
Sérgio Ricardo, paulista hoje estabelecido no Rio, apareceu para a
música em 1957, dois minutos antes do advento da bossa nova. Logo se associou a ela, intitulando
seu primeiro LP "A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo" (60).
Ali estava "O Nosso Olhar", futuro standard da bossa nova que ele
regrava no recém-lançado CD
"Quando Menos se Espera".
Mas aquele mesmo disco continha o samba "Zelão" (também regravado agora), embrião da canção de protesto dos 60 e um dos
detonadores da grande cisão da
bossa nova -"alienados" de um
lado, "participantes" do outro.
"Foi minha dissidência com a
bossa", lembra ele ao celular, viajando de carro para se apresentar
nos Sescs de Araraquara e Santos.
Dissidente, Sérgio foi trabalhar
com música, cinema e Glauber
Rocha (tudo ao mesmo tempo,
em "Deus e o Diabo na Terra do
Sol", de 64). Mas a história de Zelão, que viu a chuva derrubar seu
barracão (e "nem foi possível salvar violão"), ecoou em seu momento de maior celebridade.
Foi em 67, quando inscreveu o
protesto futebolístico "Beto Bom
de Bola" no festival da Record,
aquele mesmo que viu explodir a
geração tropicalista. O público
vaiou impiedosamente, impelindo-o num rompante a quebrar de
punho próprio o violão que nem a
enxurrada de "Zelão" arrasara.
O artista data daí o início de sua
"maldição", e os versos de "Beto
Bom de Bola" (também presente
no CD de volta) escondiam um
pouco de sua história futura: "E
foi-se a Copa/ e foi-se a glória/ e
não se ouviu mais falar/ no maior
craque da história".
"Essa música fala da exploração
dos jogadores, do esquecimento.
Quem se dá bem é sempre o cartola. De certa maneira é uma metáfora da minha história", avalia.
Se a imagem do destemperado
quebrando o violão afastava a mídia, a insistência nos temas políticos atraía a Censura.
Em 73, foi chamado a prestar esclarecimentos sobre "Calabouço"
(última das quatro regravações
contidas no CD). "Driblei a Censura com uma explicação evasiva.
Não ligaram o nome à pessoa,
acabou passando." A canção se
referia à morte do estudante Edson Luís, nos confrontos de 68. Na
letra, "Calabouço" (o local onde
Edson morreu) desdobrava-se
em "cala a boca, moço", com todas as implicações adjacentes.
À mesma época, Chico Buarque
(fã confesso de Sérgio desde o início até hoje) via mutilado seu "Calabar", que fazia jogo de palavras
parecido, de "Calabar" com "cala
a boca, Bárbara".
"Chico chegou na história um
pouco depois, quando eu, Geraldo Vandré e Sidney Miller já estávamos dando porrada. Levantou
a bandeira política sozinho quando já não havia mais ninguém,
por causa do aparecimento da
tropicália e da proibição de todos
nós. Como vinha rodeado de
enorme popularidade, não dava
para censurá-lo totalmente."
No seu caso específico, o silêncio foi sendo imposto também
pelo mercado. "Inventei a história
de circuito universitário, para sobreviver de música sem precisar
da mídia. Tenho feito isso, assumindo um trabalho marginal e
paralelo", diz.
Por aí, explica o fato de entremear regravações de suas canções políticas entre as seis inéditas: "Gravo porque meus discos
saíram todos de catálogo, e as
pessoas ficam me pedindo as velhas. Vou regravar aos poucos,
junto com as novas".
Um radical, enfim? "Não fui
radical na temática, mas fui na
vida, não querendo fazer concessão. Meu assunto com a arte
nunca foi me dar bem."
De volta, só deixa de resguardo o velho e polêmico violão. No
disco, lidou pela primeira vez
com uma "orquestra sinfônica"
feita de "botões e teclados". Em
show, prefere o piano ao violão.
QUANDO MENOS SE ESPERA. Show
de Sérgio Ricardo. Onde: Sesc Pompéia
(r. Clélia, 93, tel. 3871-7700). Quando:
hoje, às 18h. Quanto: R$ 10.
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