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CRÍTICA
CD atualiza impasse do compositor
DA REPORTAGEM LOCAL
A bem-vinda volta de Sérgio
Ricardo, em "Quando Menos se Espera", traz de volta o peso de sua história e atualiza o impasse em que o artista viveu a
maior parte de sua carreira.
Enfrentando as regravações de
quatro de suas canções mais importantes e densas (mais no sentido político que musical, como ele
mesmo interpreta), Sérgio coloca
à mostra todas as arestas que o fizeram se divorciar do mercadão.
Recantadas por uma voz hoje
cansada, revelam por inteiro riquezas (os arranjos, hábeis e formais) e fragilidades (o modo como o tempo as tornou amargamente distantes). "Zelão" volta
antiga pela voz que a profere, mas
tão atual e pungente quanto qualquer cena de "Cidade de Deus".
Da inaceitação das regras de
música e mercado impostas pela
tropicália e por seus desdobramentos, tiram seus trunfos e suas
derrotas. O impasse não se resolve, mantém-se suspenso no ar.
Nas canções novas, o artista oscila entre a persistência do protesto ("Vida Brasileira") e o pendor
revigorado ao lirismo (a faixa-título, "Chama"). Ainda nelas, soa
como pertencente a um tempo
que o pós-tropicalismo e o mercado mataram.
Fica viva (e pode se tornar divertimento à parte na audição de
"Quando Menos se Espera") a
forte influência de Sérgio Ricardo
sobre o antitropicalista de primeiro pelotão Chico Buarque, que às
vezes só o próprio influenciado
parece disposto a reconhecer.
Chico está galante nas entrelinhas de "Do Morro à Matriz", de
"Calabouço", das canções interpretadas com as cantoras Marina
e Adriana Lufti, até mesmo nos
sambinhas suburbanos. E não foi
Sérgio Ricardo quem seguiu os
passos de Chico Buarque.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Quando Menos se Espera
Artista: Sérgio Ricardo
Lançamento: Niterói Discos
Quanto: R$ 20 (à venda pelo site
www.abz.com.br)
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