São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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CRÍTICA

CD atualiza impasse do compositor

DA REPORTAGEM LOCAL

A bem-vinda volta de Sérgio Ricardo, em "Quando Menos se Espera", traz de volta o peso de sua história e atualiza o impasse em que o artista viveu a maior parte de sua carreira.
Enfrentando as regravações de quatro de suas canções mais importantes e densas (mais no sentido político que musical, como ele mesmo interpreta), Sérgio coloca à mostra todas as arestas que o fizeram se divorciar do mercadão.
Recantadas por uma voz hoje cansada, revelam por inteiro riquezas (os arranjos, hábeis e formais) e fragilidades (o modo como o tempo as tornou amargamente distantes). "Zelão" volta antiga pela voz que a profere, mas tão atual e pungente quanto qualquer cena de "Cidade de Deus".
Da inaceitação das regras de música e mercado impostas pela tropicália e por seus desdobramentos, tiram seus trunfos e suas derrotas. O impasse não se resolve, mantém-se suspenso no ar.
Nas canções novas, o artista oscila entre a persistência do protesto ("Vida Brasileira") e o pendor revigorado ao lirismo (a faixa-título, "Chama"). Ainda nelas, soa como pertencente a um tempo que o pós-tropicalismo e o mercado mataram.
Fica viva (e pode se tornar divertimento à parte na audição de "Quando Menos se Espera") a forte influência de Sérgio Ricardo sobre o antitropicalista de primeiro pelotão Chico Buarque, que às vezes só o próprio influenciado parece disposto a reconhecer.
Chico está galante nas entrelinhas de "Do Morro à Matriz", de "Calabouço", das canções interpretadas com as cantoras Marina e Adriana Lufti, até mesmo nos sambinhas suburbanos. E não foi Sérgio Ricardo quem seguiu os passos de Chico Buarque.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Quando Menos se Espera
  
Artista: Sérgio Ricardo
Lançamento: Niterói Discos
Quanto: R$ 20 (à venda pelo site www.abz.com.br)



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