São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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Crítica/"A Caçada"

Na onda de filmes baseados em fatos reais, thriller satírico é previsível e artificial

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Lançado em setembro do ano passado nos EUA, "A Caçada", thriller satírico sobre três jornalistas que tentam descobrir o esconderijo de um criminoso de guerra, chega ao Brasil semanas depois da prisão do líder sérvio Radovan Karadzic.
Considerado o responsável pelas atrocidades da guerra da Bósnia e pelo maior massacre ocorrido na Europa depois da Segunda Guerra (o assassinato de muçulmanos em Srebrenica), Karadzic é uma das figuras centrais de "A Caçada". Mas sua volta aos noticiários, que poderia reforçar a atualidade e "importância" do filme, foi um tiro que saiu pela culatra.
"A Caçada" termina ridicularizando os esforços oficiais para capturar Karadzic, sugerindo que, na verdade, ninguém estava interessado em prendê-lo. Pois eis que Karadzic é capturado numa situação de fazer inveja a qualquer obra de ficção: estava disfarçado de médico de terapias alternativas em Belgrado.
A notícia tira o pouco de credibilidade que o filme tanto buscava. Baseado em um artigo da revista "Esquire" escrito por Scott K. Anderson, o roteiro narra as peripécias de um jornalista de TV independente (Richard Gere), um cinegrafista (Terrence Howard) e um "foca" (Jesse Eisenberg) na caça ao criminoso foragido.
A idéia é dar um tratamento irreverente à guerra, sem perder a "profundidade". Mas os recursos para se chegar a esse tom são artificiais e previsíveis. A irreverência é perseguida pela narração em "off" engraçadinha, e a profundidade chega em flashbacks dramáticos para explicar os motivos da obsessão do personagem de Gere.
Em meio à onda de filmes "baseados em histórias reais", enfim, esse é apenas mais um caso em que a realidade deu um banho na ficção.

Avaliação: regular



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