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Crítica/"A Caçada"
Na onda de filmes baseados em fatos reais, thriller satírico é previsível e artificial
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Lançado em setembro do
ano passado nos EUA,
"A Caçada", thriller satírico sobre três jornalistas que
tentam descobrir o esconderijo
de um criminoso de guerra,
chega ao Brasil semanas depois
da prisão do líder sérvio Radovan Karadzic.
Considerado o responsável
pelas atrocidades da guerra da
Bósnia e pelo maior massacre
ocorrido na Europa depois da
Segunda Guerra (o assassinato
de muçulmanos em Srebrenica), Karadzic é uma das figuras
centrais de "A Caçada". Mas
sua volta aos noticiários, que
poderia reforçar a atualidade e
"importância" do filme, foi um
tiro que saiu pela culatra.
"A Caçada" termina ridicularizando os esforços oficiais para capturar Karadzic, sugerindo que, na verdade, ninguém
estava interessado em prendê-lo. Pois eis que Karadzic é capturado numa situação de fazer
inveja a qualquer obra de ficção: estava disfarçado de médico de terapias alternativas em
Belgrado.
A notícia tira o pouco de credibilidade que o filme tanto
buscava. Baseado em um artigo
da revista "Esquire" escrito por
Scott K. Anderson, o roteiro
narra as peripécias de um jornalista de TV independente
(Richard Gere), um cinegrafista (Terrence Howard) e um "foca" (Jesse Eisenberg) na caça
ao criminoso foragido.
A idéia é dar um tratamento
irreverente à guerra, sem perder a "profundidade". Mas os
recursos para se chegar a esse
tom são artificiais e previsíveis.
A irreverência é perseguida pela narração em "off" engraçadinha, e a profundidade chega em
flashbacks dramáticos para explicar os motivos da obsessão
do personagem de Gere.
Em meio à onda de filmes
"baseados em histórias reais",
enfim, esse é apenas mais um
caso em que a realidade deu um
banho na ficção.
Avaliação: regular
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