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Locais menos conhecidos de São Paulo abrigam marcos arquitetônicos e históricos
Tesouros escondidos
ALEXANDRA MORAES
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
Há pequenos tesouros espalhados por São Paulo, apesar da tendência a procurar grandes obras
arquitetônicas apenas nos prédios públicos mais conhecidos da
cidade.
Estilos e necessidades de épocas e pessoas diversas foram delineando edifícios e entornos que
têm, além de história para contar,
a assinatura de arquitetos respeitados ou marcas da presença de
imigrantes na cidade.
Das colônias estabelecidas
aqui, um dos principais expoentes é o bairro do Bom Retiro, na
região central da cidade, que chama a atenção por um conjunto
urbano herdado de imigrantes
árabes, italianos, judeus, gregos e,
mais recentemente, coreanos.
"São cantinhos simpáticos para
visitar num domingo. Não é [um
bairro" adensado, ainda é aquela
arquitetura dos casarios baixos,
as calçadas são largas, não tem
camelô, é outro mundo", diz a arquiteta e urbanista Regina Monteiro. "A partir do restaurante
Acrópoles, de comida grega, dá
para fazer um bom passeio. Além
do almoço agradável, você descobre esses lugares charmosos."
Nos arredores, o arquiteto Abilio Guerra destaca o Conjunto
Comercial do Bom Retiro, obra
do arquiteto polonês Lucjan
Korngold, "desconhecida até
mesmo dos arquitetos, mas que é
um conceito de comércio de rua
muito interessante, apesar de um
pouco degradado", diz.
O conjunto, com entradas pelas
ruas José Paulino e Ribeiro de Lima, ocupa 7.000 m2 e se divide em
seis blocos que possuem ruas internas suspensas, amplas, para
que "pudessem proporcionar a
todos os blocos condições de iluminação e circulação excepcionais", previstas no prospecto de
divulgação do edifício, lançado,
segundo Guerra, provavelmente
no início da década de 70.
Os prédios expressam hoje a faceta mais conhecida do bairro, rico em comércio popular, e registram um projeto que integraria
lojas, escritórios e residências.
Outro exemplo de influência
estrangeira na cidade é apontada
pelo arquiteto Eduardo Della
Manna, que destaca a Vila dos Ingleses, conjunto de casas encravado em um quarteirão entre a
avenida Prestes Maia e a rua Cantareira, nas proximidades da Estação da Luz. Como o próprio
nome insinua, as 28 casas dispostas no formato de um "L" seguem
estilo próprio de vilas operárias
vistas em Londres no século 19.
As janelas com mais de 1,5 metro de comprimento e os grandes
sótãos são marcas dessa arquitetura, adotada por ocasião da vinda de engenheiros britânicos para a construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí no final da década de 1910. Atualmente, boa
parte das casas são ocupadas por
escritórios comerciais.
Também na região central, o
edifício Viadutos é uma das principais obras do arquiteto Artacho
Jurado. A urbanista Raquel Rolnik traça um paralelo entre o trabalho do paulistano e o do catalão Antoni Gaudí, responsável
pelo projeto da igreja Sagrada Família, em Barcelona. "Artacho
Jurado, como Gaudí, buscava um
estilo próprio. Mas, claro, devemos guardar as devidas proporções", afirma.
Inaugurado em 1955, o prédio
possui as características de glamour e imponência que evocavam a cenografia hollywoodiana
e marcaram outros projetos de
Jurado, como os edifícios Cinderela e Bretagne, estes no bairro de
Higienópolis.
Outra preciosidade oculta está
no subsolo do Teatro Municipal,
que, segundo o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Nestor Goulart,
deveria merecer mais atenção
por parte do público.
Antes um depósito para materiais utilizados nas apresentações, o ex-porão foi batizado de
Salão dos Arcos e hoje é mais
bem aproveitado como espaço
para exposições e espetáculos.
Goulart indica como ponto alto
os arcos que dão nome ao local,
feitos de alvenaria, característicos de outras obras do arquiteto
Ramos de Azevedo, como o prédio do Departamento do Patrimônio Histórico da cidade.
Mais distante do burburinho
central, o edifício do Instituto
Biológico é um dos principais
marcos do art-déco em São Paulo, construído na década de 30 e
tombado pelo Condephaat no
ano 2000. "Além do edifício em
si, o auditório é bárbaro, as cadeiras e as arandelas são art-déco",
enumera Regina Monteiro. " É
um prédio que não é tão paparicado. Temos que cobrar, para garantir que ele nunca suma."
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