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CINEMA
Mostras apresentam, ao mesmo tempo, filmes de valor técnico e histórico
Feliz coincidência
DA REDAÇÃO
Uma feliz coincidência trouxe a
São Paulo de uma só vez mostras
que destacam produções de importância histórica e/ou técnica
para o cinema. Alguns mais conhecidos, outros em rara oportunidade de serem vistos, são filmes
que merecem atenção.
Na sala Cinemateca, a mostra
"Clássicos da UFA - 1918-1943"
perscruta a produção alemã de
um período delicado. Antes do
fim da Primeira Guerra Mundial,
o país viu nascer a Universum
Film AG, ou UFA, que seria responsável, principalmente até o
começo dos anos 30, por boa parte da produção cinematográfica
do país. Criada em 1917 pelo exército alemão como um instrumento de propaganda, a UFA foi oficialmente colocada nas mãos do
governo em dezembro daquele
ano, e serviria, mais de uma década depois, à propaganda nazista.
Nesse meio tempo, no entanto,
o estúdio produziu não apenas filmes memoráveis, mas ajudou a
solidificar alguns dos principais
nomes do cinema alemão da época, como os diretores Fritz Lang,
F. W. Murnau, Ernst Lubitsch e os
fotógrafos Karl Freund ("A Última Gargalhada", "Metrópolis") e
Carl Hoffmann ("Fausto" e as
duas partes de "Os Nibelungos").
Hoje, a mostra apresenta "Os
Espiões" e "A Mulher na Lua",
duas produções de Fritz Lang. A
primeira, um filme de espionagem em que um banqueiro ambicioso arma um complicado jogo
de intrigas para ganhar poder, foi
o primeiro filme de Lang depois
de "Metrópolis", que, com o orçamento estourado -quase três vezes mais alto do que o planejado-, quase levou a UFA à falência. Realizado logo em seguida,
"A Mulher na Lua" é uma ficção
científica sobre uma expedição
que vai ao satélite em busca de ouro. A preocupação com a divulgação de detalhes técnicos levou os
nazistas a proibir sua exibição.
Se por um lado a mostra deixa
de apresentar clássicos como
"Nosferatu" (1922) ou "Metrópolis" (1926), acaba dando espaço a
produções menos conhecidas do
período mais produtivo da UFA,
antes da emigração de muitos de
seus profissionais para os EUA e
da ascensão de Hitler à chancelaria alemã, em 1933.
A história da Alemanha, aliás, é
o tema de "A Patriota" (1979), de
Alexander Kluge, ex-assistente de
Fritz Lang e um dos principais nomes do chamado novo cinema
alemão. O filme faz parte do ciclo
"Estratégias da Imagem", no
CCBB, e repassa a história do país
através de uma professora que a
investiga, ao mesmo tempo com
ceticismo e curiosidade.
Kluge dá ao filme um toque de
documentário e faz da montagem
uma aliada ao falar das "muitas
histórias" de um país e do que há
por trás das palavras que o formam -com "Alemanha" aparecendo na tela logo depois.
A justaposição de passado e
presente, sonho e realidade de um
escritor, feita pelo diretor francês
Alain Resnais em "Providence"
(1977), e "Persona" (1966), de Ingmar Bergman, que insiste nos close-ups para dissecar duas personalidades femininas distintas,
também são exibidos na mostra.
Mais populares, dois grandes
suspenses americanos, "A Marca
da Maldade", de Orson Welles, e
"Testemunha de Acusação", de
Billy Wilder, estarão no Cinusp a
partir de amanhã.
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