|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESTRÉIA
Engenho Teatral mostra "Pequenas Histórias que à História Não Contam" em sala construída no Campo Limpo
Teatro Móvel leva peça à periferia de SP
PEDRO IVO DUTRA
DA REDAÇÃO
A substanciais quilômetros da
Broadway paulistana, epíteto dado à Bela Vista pela concentração
de entretenimento, aterrissa, numa praça da zona sul, um objeto
circular, ainda não bem identificado, que deixou ressabiada a vizinhança. Em vez de cair dos céus,
foi trazido por dez caminhões.
O mistério, em parte desvendado durante a semana para escolas
e convidados, encerra-se por inteiro hoje para a população local.
Trata-se de uma sala de teatro,
também destinada a outros fins
artísticos. É o Teatro Móvel, que
se instala para ficar por um ou
dois anos no Campo Limpo.
Ao lado de uma igreja evangélica -cujos horários de alguns cultos batem com os das apresentações-, o espaço conta com uma
platéia de 200 lugares, em arena
de três faces, banheiros, cozinha,
camarins e coxias. Sustentado por
14 arcos de ferro, abarcando 26
metros de diâmetro e nove metros de altura no centro, lembra
um iglu pela lona ainda bem
branca, que já foi azul em outros
tempos. Pesa 40 toneladas.
Para montar todo esse aparato,
foram necessários dois meses e
meio de trabalhos. Na última
quinta-feira, havia cinco homens
contratados pela prefeitura dando-lhe os últimos retoques.
Teatro e hip hop
"Pequenas Histórias que à História Não Contam". Eis o título da
peça de inauguração, destinada a
adolescentes. Já para ontem, aliás,
estava programada a performance de uma posse (nome dado a
uma reunião de rappers, grafiteiros e de outras "disciplinas" ligadas ao movimento hip hop).
O texto, segundo seu autor e diretor, Luiz Carlos Moreira, 52, usa
a linguagem épica para demonstrar certos mitos vendidos pela
mídia aos jovens: a ascensão pelo
estudo, que garantiria emprego a
todos, e a procura por carreiras
tais quais o futebol, a música ou a
moda como motor de melhora
social. As personagens são o pagodeiro, o craque, o jovem viciado, o mendigo, a modelo. Um
apresentador, como nos programas de auditório, amarra os monólogos da juventude confusa em
suas aspirações e perspectivas.
Além das noites de hip hop aos
sábados, durante a semana o
"iglu" estará aberto, principalmente a escolas. Um ônibus pode
buscar e trazer grupos. Correndo
paralelas às atividades, oficinas de
teatro, rap, DJ e dança de rua se
realizam há dois meses no galpão
da Occa (Organização de Cultura
e Cidadania). Serão transferidas
ao Teatro Móvel.
Uns conseguem emprego, outros enfrentam reprovação familiar ou têm problemas para se locomover até a praça. Aos poucos,
segundo o monitor da oficina teatral, Nelson Galvão, 33, vai se formando o grupo final, assíduo.
"Um deles teve de nos abandonar,
vinha do Capão Redondo a pé."
O grupo Engenho faz trabalhos
na periferia ou em bairros menos
próximos ao circuito convencional desde 1993. Em seus giros, já
esteve na Vila Carrão, no Jardim
São Paulo e em Pirituba. A contagem de público começou em 96:
135 mil pessoas.
O investimento é de cerca de R$
1 milhão, havendo patrocínio de
Centro Empresarial São Paulo,
shopping Morumbi, Panamby,
cia. Santa Cruz e do Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, da prefeitura.
PEQUENAS HISTÓRIAS QUE À
HISTÓRIA NÃO CONTAM. Texto e
direção: Luiz Carlos Moreira. Com: grupo
Engenho. Onde: Teatro Móvel (pça. João
Tadeu Priolli, s/nš, tel. 5841-9915,
também para agendamento de
espetáculos). Quando: de seg. a qui., às
20h; dom., às 18h. Entrada franca.
Texto Anterior: Sobre duas rodas Próximo Texto: Mostra de dramaturgia: Trabalho e ousadia marcam a terceira semana do ciclo teatral Índice
|