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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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Livraria Belas Artes reabre e av. Paulista volta a interessar livreiros de SP e do Rio

Palavras cruzadas

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
Vista da livraria Martins Fontes, na região da avenida Paulista, especializada em títulos de ciências humanas, psicologia e filosofia; a loja tem planos de abrir um café


IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Todas as manhãs dos últimos 18 anos, o professor de história da ciência José Luiz Goldfarb, 46, levantou pessoalmente as portas de ferro de sua livraria Belas Artes. A rotina terminou há quatro meses, quando ele vendeu a loja à distribuidora Códice. E hoje, quando subir os três degraus que separam a avenida Paulista da nova Belas Artes, teme sentir uma pontada no coração. "Estou muito ansioso", diz o professor.
Reaberta na segunda-feira passada, na surdina, sem festas nem fanfarra, a Belas Artes é uma das livrarias mais conhecidas da cidade. Inaugurada em 1979, entrou 2003 sob risco de fechar. Falta de segurança nas ruas e o provável fechamento do cine Belas Artes eram alguns dos problemas.
"Vi, do balcão da loja, o movimento noturno ir caindo com o passar dos anos. Nosso horário de fechamento caiu junto. Antes era às 23h. Depois, 22h, 21h, 20h... Vou visitar a loja neste domingo e sei que vai doer", conta Goldfarb, ainda proprietário do imóvel.
Comprada em abril pela distribuidora de livros Códice, a Belas Artes continuará fechando às 20h. "Mas nos fins de semana vamos até às 22h", fala Luiz Eduardo Alves Severino, um dos novos proprietários. A reinauguração oficial, desta vez sim, com festa e presença de autores e editores, está marcada para 1º de setembro.
A reforma de três meses da Belas Artes trouxe novas prateleiras, visual moderno e um saldão no segundo andar com livros a partir de R$ 2,90. "Triplicamos o número de obras disponíveis. Estamos com exatos 18.512 títulos", afirma o informatizado Severino, de olho no computador, outra das novidades da loja.
A reabertura da Belas Artes, para delírio dos ratos de livraria, parece ser apenas o início de uma nova onda literária na avenida Paulista. Dois boatos circulam entre os livreiros da cidade: a Fnac deve abrir uma megastore na altura do número 900 e a Livraria da Travessa, tradicional loja do Rio, vai inaugurar uma filial no Center 3, no número 2.064 da avenida. Sem falar nas novas filiais da Livraria da Vila e da Cultura.
Isso apesar de as vendas em livrarias terem caído, segundo dados da Câmara Brasileira do Livro. Em 2001, elas vendiam 24% dos livros no Brasil. Em 2002, a porcentagem caiu para 22%. O restante é vendido por bancas, jornais, supermercados, feiras e para o governo.

Dormindo na poltrona
Mesmo assim, a Fnac confirma que vai abrir mais uma loja em São Paulo, talvez ainda este ano. Mas não diz se é na av. Paulista. Por outro lado, não nega o endereço. Quanto à Livraria da Travessa, o interesse existe mesmo.
"Ouço sempre dizer que a Travessa tem mais cara de São Paulo, onde o público é mais exigente do que o do Rio", diz o proprietário, Rui Campos, 50. "Posso dizer que passo o dia inteiro pensando nisso, procurando o melhor lugar. Recebemos várias propostas de abertura em São Paulo."
A Livraria da Travessa, que já conta com quatro lojas no Rio, é um ponto de encontro cultural. "Nos fins de semana, alguns clientes pegam um livro, sentam na poltrona... e dormem", diverte-se Campos. "Quero levar esse estilo para São Paulo."

Livraria-biblioteca
Com a mesma linha intimista da rede carioca, a paulistana Livraria da Vila, na Vila Madalena, também assume planos de expansão. "Queremos abrir uma nova loja em São Paulo, talvez em 2004, mas ainda não sabemos o local. Para este ano, estamos aumentando a loja da Fradique Coutinho. A livraria vai ganhar auditório e aumento da área do café", conta o proprietário, Samuel Seibel, 48.
O café é mesmo uma necessidade para uma livraria da linha intimista. "As pessoas vêm aqui para trabalhar, discutir idéias ou simplesmente bater ponto. Tem uma cliente que se senta diariamente no café, lê os livros e não compra nada, como se estivesse numa biblioteca. É claro que não vamos restringir. Acho essa identificação muito interessante", fala Seibel.
Com quatro lojas no Conjunto Nacional e uma no shopping Villa-Lobos, a poderosa Livraria Cultura quer mais. "Estamos expandindo", diz o proprietário, Pedro Herz. "Abrimos em Porto Alegre em abril e vamos inaugurar em Recife no início de 2004. E há também uma nova filial em São Paulo no ano que vem, mas não posso dizer nada. Se é na Paulista? Não posso dar dicas..."
"A Paulista está se tornando o centro das livrarias", resume Eduardo Martins Fontes, 42, sócio da editora e rede de livrarias que leva seus sobrenomes. Com uma loja na Paulista na altura do metrô Brigadeiro, os planos da Martins Fontes para o ano que vem são mais modestos. Até porque a rede inaugurou uma loja na alameda Jaú há menos de um ano.
"Vamos abrir espaço para um café na filial da Paulista. Gosto de vender livro difícil, de ciências humanas, psicologia, filosofia, importados etc. Então, criaremos condições para os clientes passarem ainda mais tempo dentro da loja."
Café é o que não existe na nova Belas Artes, com seus exíguos 42 m2, assim como também não há espaço para eventos ou auditórios. A clientela, entretanto, agradece. Especialmente se estiver com um ingresso no bolso, esperando a hora de começar o filme no cinema ao lado.



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