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COMENTÁRIO
Pequenos criam nova política
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Durante o feriado, São Paulo deixa transparecer uma
nova política cultural mais consistente. A possibilidade de assistir a
um ótimo espetáculo, sem trânsito nem filas, num teatro pequeno,
deveria ser sempre uma opção.
Acontece que, quando a cidade
não está vazia, é grande a afluência em direção a esses pólos de excelência, que superlotam.
Como falar de crise no teatro se
há uma demanda enorme do público por bons espetáculos, e dezenas de grupos habilitados e dispostos a satisfazê-lo? Quando a
classe teatral paulistana se organizou para exigir da prefeitura um
efetivo investimento em teatro,
concretizado pelo programa de
Fomento, grupos como o Teatro
da Vertigem e o Cemitério de Automóveis, entre outros, não só
passaram a ter condições mínimas para desenvolver sua pesquisa imprescindível, como formam
agora uma platéia que se habilita a
exigir cada vez mais deles.
O fato de esses teatros acolherem em geral menos de cem pessoas não é um empecilho, muito
pelo contrário. Segundo o modelo
consagrado pelo Teatro de Arena
nos anos 50, e que se mantém vivo
em "Mire Veja" da Cia. do Feijão,
atores representando quase em
meio ao público contam sobretudo com uma formação sólida e a
inventividade que supre a falta
crônica de recursos. Essa virtude
do teatro "pobre" faz com que o
público venha sobretudo atrás de
um conteúdo, de uma cumplicidade temática com os atores, e
não raro o grupo vai tomando o
perfil do bairro. Cada bairro mereceria o seu, portanto.
O que vem se consolidando assim nas pequenas salas é um teatro descentralizado que se oferece
não tanto como um bem de consumo, mas como serviço público,
com o endosso da prefeitura. Esse
princípio do direito do cidadão ao
teatro já vem pautando o Sesi há
anos. Por que, então, já que a fórmula comprovadamente dá certo,
"empresários culturais" insistem
em sonhar com teatros de 2.000
lugares, que só se sustentam com
um marketing à altura da Broadway/Disneylândia, se poderiam
construir 20 teatros de cem lugares, com um retorno maior e, se
for preciso lembrar, a relevância
cultural que se espera de uma metrópole como São Paulo?
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