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TEATRO
"Arlequim..." presta homenagem ao teatro popular; "Il Primo Mirácolo" apresenta gênero em sua forma autêntica
Montagens tentam servir a dois padrões
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Recentemente apresentada no Brasil, a cinquentenária encenação do Piccolo Teatro
de Milão para "Arlequim, Servidor de Dois Patrões" ainda está
fresca o suficiente na memória da
platéia para que uma leitura brasileira pareça uma temeridade.
Afinal, a técnica da commedia
dell'arte não pode ser aprendida
em poucos meses, apesar de os
cursos se multiplicarem ultimamente. É preciso uma vida para se
dedicar a Arlequim, como demonstra o inesquecível arlequim
milanês Ferruccio Soleri.
Luiz Arthur Nunes, no entanto,
é diretor experiente. Sabe dialogar
com a montagem de Strehler sem
perder de vista os recursos com
que pode contar.
Assim, apesar de um elenco no
qual é patente a falta de experiência de alguns, se apóia na tradução de Millôr Fernandes e na trilha sonora de João Carlos Assis
Brasil para uma montagem que
flui agradavelmente.
Apresenta-se para a corte -no
penúltimo sábado, uma platéia de
autoridades políticas- ao mesmo tempo em que se presta homenagem ao teatro popular.
Melhor do que isso, só o teatro
popular autêntico, que, apesar da
homenagem, continua em geral
passando despercebido quando
está em cartaz. Um exemplo disso
é "Il Primo Mirácolo".
Sem figurino, trilha ou cenário,
dirigindo a si mesmo em mais de
20 personagens, em um espetáculo que percorre há mais de dez
anos os teatros do mundo, Roberto Birindelli faz valer o que há de
mais nobre no teatro popular ao
compartilhar a fábula de Dario
Fo, na qual Cristo menino promove uma seminal reflexão sobre
preconceito e poder.
Com a indignação mascarada
pela irreverência, e sobretudo
com uma generosa cumplicidade
com a platéia, "Il Primo Mirácolo" promove a mais emocionante
defesa da fé verdadeira desde o
"Tartufo" de Molière.
Molière que, como Goldoni, sabia servir tanto a corte quanto os
cidadãos. Porque não importam
tanto os recursos ou o endereço
do espetáculo: será sempre pleno
o palco em que pisam atores como Roberto Birindelli.
Arlequim, Servidor de Dois
Patrões
Texto: Carlo Goldoni
Direção: Luiz Arthur Nunes
Com: Marcos Breda, Camila Pitanga e
outros
Onde: Teatro das Artes (shopping
Eldorado, av. Rebouças, 3.970, tel. 3034-0075)
Quando: de qui. a sáb., às 21h, e dom., às
18h; até 31/8
Quanto: de R$ 25 a R$ 50
Patrocinador: Alcoa
Il Primo Mirácolo
Texto: Dario Fo
Direção e interpretação: Roberto
Birindelli
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala
Paulo Emílio Salles Gomes (r. Vergueiro,
1.000, tel. 3277-3611)
Quando: sex. e sáb., às 21h, e dom., às
20h; até 20/7
Quanto: R$ 10
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