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"Vida marginal" criada por Mário Bortolotto ganha encenação de Raul Cortez
Beat da sarjeta
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Em cartaz com duas peças em
São Paulo, "Kerouac" e "Homens, Santos e Desertores", e
uma no Rio, "Brutal", e lançando
em setembro seu segundo romance, "Bagana na Chuva", Mário Bortolotto, 40, na estrada há
20, surpreende:
Um texto seu de 1984, "À Meia-Noite um Solo de Sax na Minha
Cabeça", será montado neste ano
pelos atores Raul Cortez e Mário
Cesar Camargo, com direção de
Fauzi Arap. Cortez ainda produzirá outra peça sua, "Fica Frio".
Após assistir à Mostra de Dramaturgia Contemporânea do Sesi em 2002, Cortez apaixonou-se
por Bortolotto, viu suas peças no
Centro Cultural São Paulo, leu
quase toda a sua obra e define:
"Ele é uma mistura de Nelson
Rodrigues com Plínio Marcos,
mas é ele, na sua loucura, com
sua personalidade forte. Ele é um
oásis. Tive atração pela vida marginal e rica de seus personagens".
Cortez se identifica com a atmosfera da extensa obra de Bortolotto (mais de 40 peças), autor
que afirma que escreve como
quem "chuta um balde para o
abismo mais próximo".
"Ele já é conhecido, mas precisava de um ator que o colocasse
nos refletores, porque ele tem
muito o que dizer, mexe com as
pessoas. E a atuação dele mexe
muito comigo", completa.
Autor, ator, iluminador, sonoplasta e diretor, Bortolotto tem a
vida com que muitos colegas da
classe teatral sonham. Já foi indicado como ator para o Prêmio
Shell, que ganhou como autor
("Nossa Vida Não Vale um Chevrolet").
Tem seu próprio teatro (Espaço
Cemitério de Automóveis), trabalha com a mesma equipe de
amigos, como o bilheteiro Bactéria; atua em seus próprios textos e
é produzido, dirigido e iluminado eventualmente por sua mulher, a atriz Fernanda d'Umbra.
Em São Paulo, terça e quarta,
atua em seu próprio texto, "Homens, Santos e Desertores", com
Gabriel Pinheiro. De sexta a domingo, protagoniza "Kerouac",
monólogo de Maurício Arruda
Mendonça, dirigido por Arap.
Avesso a restaurantes da classe
teatral, o paranaense e ex-seminarista, filho de um motorista de
caminhão, começou a escrever
nos anos 80 a pedido de seu grupo de teatro de Londrina, que
achava "caretas" os textos em
disposição. Rato de festivais, ele
repete, emprestando a fala de seu
personagem Kerouac: "A sabedoria está no excesso".
Numa mostra sua no Centro
Cultural, produzida por sua mulher em 2002, trabalharam 79 atores. Ele já trabalhou com os grupos Tapa, Folias d'Arte, Parlapatões, mas nunca teve um texto
seu montado por um ator do peso de Cortez. Coincidentemente,
o texto "Kerouac" induz que o
pai da literatura beat detestava a
fama, sentia falta do anonimato e
desprezava seus fãs. Bortolotto
corre o mesmo risco?
"Não vai acontecer comigo,
porque não vou ficar famoso. Eu
nunca pensei muito nisso. É que
eu não busco esse tipo de projeção, esse negócio de ser famoso e,
sendo assim, não consigo me
imaginar assim. Eu sou apenas
um escritor e ator de teatro."
Começou a escrever na adolescência, após ser expulso do seminário (Coligação Oblatos de São
José), por exercer má influência,
segundo os padres. Veio para São
Paulo em 96 e tentou fazer um
curso de ator, mas largou: "Sou
um ator "cool". A maioria desses
cursos é picaretagem. Aprendo
observando as personagens da
noite. O Fauzi, que, para mim, é o
melhor diretor de ator do Brasil,
me faz ser mais visceral".
"Solo de Sax na Minha Cabeça"
é sobre dois amigos que nasceram no mesmo berçário, um rico
e um pobre, que continuam amigos, apesar das diferenças. "É um
tributo à amizade", define.
"Bagana na Chuva" é uma história de amor que se passa em
Londrina e será publicado pela
editora Ciência do Acidente.
Bortolotto também estréia no
Rio em setembro "Curta-Passagem" e "Felizes para Sempre".
Mês que vem, reestréia em São
Paulo "Hotel Lancaster" (indicado para o Shell) no Espaço dos
Satyros, com Angela Dip.
KEROUAC. Onde: Centro Cultural São
Paulo (r. Vergueiro, 1.000, Liberdade,
tel. 3277-3611). Quando: sex. e sáb., às
21h; dom., às 20h. Quanto: R$ 12. Até
31/8.
HOMENS, SANTOS E DESERTORES.
Onde: Espaço Cemitério de Automóveis
(r. Conselheiro Ramalho, 673, Bela Vista,
tel. 3285-2850). Quando: ter. e qua., às
21h30. Quanto: R$ 5. Até 27/8.
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