Artista gaúcha exibe instalação, pinturas e desenhos em exposição individual na galeria Nara Roesler

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A luz de Porto Alegre, uma das raras coisas que encantaram o escritor francês Albert Camus em visita à cidade, em 1949, é um dos eixos eleitos pela gaúcha Karin Lambrecht, 51, para orientar a sua nova exposição individual em São Paulo, aberta hoje para o público na galeria Nara Roesler.
Em "Diário de Viagem", o escritor existencialista narra sua experiência na América, incluindo passagens no Rio e na capital gaúcha, qualificando-a de "feia [...] apesar dos cinco rios". Ainda assim, destaca a "luz bela" do lugar.
A partir do relato, Lambrecht criou uma instalação que evoca tal passagem, com uma cruz de compensado que tem como centro as proporções de uma cama, pintada de azul.
"Se fecharmos os lados do objeto, seria uma espécie de quarto. O azul remete ao céu e à luz elogiada por Camus, que também dialoga com a fotografia em preto-e-branco, matriz do filme exibido", explica a artista. "Eu quis montar uma instalação que fugisse desse mundo objetivo e se ligasse mais ao íntimo, às impressões subjetivas do escritor durante essa viagem."
Ainda compõem a instalação uma régua-tê, "que tem movimento de ascensão", e um painel com textos manuscritos do livro do autor francês e esboços do projeto da artista.
Colocadas também na sala principal da galeria, cinco telas se inserem na conhecida produção de Lambrecht, que incorpora tipos, pedaços de cobre, cetim e feltro, frases e elementos como cruzes, por meio de técnicas variadas (óleo, grafite, pastel), para compor seus grandes quadros.
Participante da exposição "Como Vai Você, Geração 80?"-que firmou a pintura como uma das principais linguagens das artes plásticas do período-, realizada no Rio em 1984, e de duas edições da Bienal de São Paulo, Lambrecht estudou em Berlim de 1980 a 1982, onde entrou em contato com a forte pintura local.
"Além disso, era comum ver obras de Kiefer e outros bons artistas. O Beuys, por exemplo, deu um seminário para os estudantes", conta ela, que destaca como grande influência um de seus professores, Raimond Girke, "pouco conhecido, mas um dos maiores pintores com quem já tive contato".

Nova série
O pernambucano Marcelo Silveira apresenta na galeria uma nova série de objetos, "Arquitetura de Interior", composta de 12 peças em madeira e vidro e 12 livros.