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ERUDITO
"Concerto nš 1, para Violino e Orquestra" será executado no Municipal
OSM exibe "jóia" de Prokofiev
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O compositor Sergei Prokofiev
(1891-1953) ganha homenagem
hoje e amanhã com uma preciosidade: a apresentação do seu
"Concerto nš 1, para Violino e Orquestra", opus 19, que a Orquestra Sinfônica Municipal executa
no Teatro Municipal para relembrar os 50 anos da morte do autor.
O concerto, que terá regência de
Ira Levin e trará como solista
Cláudio Cruz, é uma preciosidade
do repertório, uma reinvenção de
dissonâncias. Mas, se não bastasse interpretá-lo, Levin e a OSM
apresentam no mesmo programa
o longo e lento fragmento da inacabada "Sinfonia nš 10", de Gustav Mahler (1860-1911). E Cruz,
35, é um músico completo, superlativamente técnico. Combina
com Prokofiev.
Este, por sua vez, é um personagem singular na história da música do século 20. Sua fluência e sua
escrita frequentemente bem-humorada, seu refinado lirismo e o
bom gosto de seus momentos épicos fazem dele um compositor
absolutamente moderno, que
agrada e se faz compreender.
Sua biografia é atribulada.
Ucraniano, aos 14 anos já havia
escrito uma sinfonia e três sonatas. Foi aluno em São Petersburgo
de Rimski-Korsakov. Tornou-se
um dos grandes pianistas de sua
geração, dentro da concorrida escola russa de grandes intérpretes.
Deixou a Rússia no ano seguinte
à tomada do poder pelos bolchevistas. Viveu na França, nos EUA
e na Itália. Voltou definitivamente
à então URSS em 1936.
Com os 50 anos de sua morte, a
opção de viver sob Josef Stálin gerou um inimaginável amontoado
de idiotices em jornais norte-americanos e europeus. Que o
trataram com condescendência:
vítima e cúmplice do regime comunista, Prokofiev só seria perdoável pela música que nos legou.
Em verdade, ele nunca foi um
compositor "oficial". Fez pequenas concessões estéticas, que no
entanto não chegaram a violentar
sua relação com os sons.
Juntamente com Dmitri Chostakovich, contemporâneo seu, ele
se expressava na linguagem sinfônica com grande fluência e precisão. Mas sabia mais que Chostakovich produzir o belo acessível,
palatável. Estão aí a peça infantil
"Pedro e o Lobo", o balé "Romeu
e Julieta", a trilha sonora de "Alexandre Nevski", filmado por Sergei Einsenstein, ou a ópera "O
Amor por Três Laranjas".
A obra de Prokofiev é extensa.
Há 135 peças em seu catálogo.
Curioso haver tanto dele ainda
por ser gravado. Talvez porque
o Ocidente não o perdoou por
flertar com os comunistas, e estes não o perdoaram por ter caído em desgraça em 1948.
Em todo caso ele deixou oito
óperas, sete balés e sete sinfonias, cinco concertos para piano, dois para violino, outros
dois para violoncelo e por aí vai.
Às 21h10 de 5 de março de 1953
Prokofiev morreu, em Moscou.
Coincidência mórbida: às 22h
daquela mesma noite era anunciada a morte de Stálin.
Apenas 40 pessoas acompanharam seu enterro. Mais que
isso, a agência Tass conseguiu
noticiar sua morte apenas seis
dias depois. Prokofiev com certeza torcia pela chegada de uma
Rússia pós-stalinista. Caso tivesse vivido 50 minutos a mais, sentiria ao menos um pouquinho
do perfume dela.
SERGEI PROKOFIEV, 50 ANOS
DEPOIS. Quando: hoje, às 11h, e
amanhã, às 21h. Onde: Teatro
Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/
nš, região central, tel. 222-8698).
Quanto: de R$ 10 a R$ 35.
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