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DANÇA/"LIVRE TRÂNSITO"
Programação propõe encontro com diferentes linguagens, como hip hop, moda e videoarte
Artes se reúnem e criam movimentos comuns
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Termina hoje o "Livre Trânsito"; o evento, que começou
no último dia 12, faz parte da programação "Mês Dança em Pauta", no Centro Cultural Banco do
Brasil, com curadoria de Ana
Francisca Ponzio. Proposta: fomento à criação e ao contato entre
artistas de áreas distintas. Resultados: alguns de grande força, outros nem tanto, como é natural.
A programação se dividiu em
dois eixos: "Encontros" e "Mostra
de Dança". Para a abertura, uma
mesa-redonda sobre políticas culturais. No segundo encontro,
"Ateliê Coreográfico Obra em
Construção", Joel Borges falou
sobre o programa de intercâmbio
que desenvolve desde 2001, na
França, e os participantes comentaram suas experiências.
Por aqui, Borges trabalhou com
13 criadores; dois nomes serão
anunciados hoje, para representar o Brasil na Residência Internacional de Criação, em Paris, em
outubro.
Um vídeo de Alexandre Leveuf
apresentou as pesquisas, surpreendentes. Borges e Leveuf extraem a essência dos trabalhos "in
progress", a partir da análise dos
(e entre os) participantes.
Na primeira das quatro coreografias da mostra, "Amo a Vida e
Namoro a Morte", Cibele Forjaz,
Sandro Borelli e Umberto Silva
transitam entre dança e teatro.
Momento memorável: o encontro corporal entre os intérpretes,
Borelli e Silva. Um corpo sobre o
outro, um movimento fundido
no outro. Quem move, quem é
movido? Cena para impressionar
qualquer um; mas nem todos terão a mesma empatia com os símbolos, incluindo o fogo no fim.
"Estar Sendo", de Miriam Druwe e Marta Soares, é uma dança
de opostos. Leveza e técnica, arrematadas pela interferência do videoartista Nelson Enohata. Em
cena, Druwe e Enohata, mais um
auxiliar.
No silêncio, os movimentos expõem a pesquisa corporal -de
peso, fluência, equilíbrio e desequilíbrio. O corpo explorado em
detalhes pela câmera. Nos movimentos menores, Druwe encontra mais qualidade, que explode
nas projeções. A luz (Cibele Forjaz e Alessandra Domingues) risca e dá cor ao espaço.
Idéia instigante, com movimentos comuns, na coreografia do Cena 11, uma parceria entre o figurinista Ricardo de Almeida e o coreógrafo Alejandro Ahmed, "SKR
- Procedimento 3". Será uma das
quatro partes de "SKINNER
BOX", que estréia em 2004. A inspiração vem do psicólogo Skinner
(1904-90), que estudou o comportamento por meio de processos
de recondicionamento.
Qual a influência da roupa no
comportamento humano? Tons
vibrantes, listras e xadrez remetem às histórias em quadrinhos,
em que o herói jamais morre,
mesmo quando se esborracha no
chão (cena recorrente na dança).
Duas mulheres de calcinha e fita
adesiva nos peitos se jogam o
tempo todo de peito no chão. Três
homens de terno mudam constantemente de roupa. O trio dança em sequência, seus rostos às
vezes cobertos; no telão do fundo
projeta-se a face ausente.
E as roupas, afinal? Não modificam os movimentos, só ressaltam
papéis. A julgar por essa parte, o
novo espetáculo deve alcançar a
mesma densidade que se admira
há muito no grupo.
Para encerrar a temporada, agora, uma parceria entre o coreógrafo do grupo Quasar, Henrique
Rodovalho, e o Grupo Discípulos
do Ritmo, de hip hop. Dança, teatro, videoarte, moda, hip hop:
"Trânsito Livre" promoveu encontros e estimulou a criação. Bela proposta; erros e acertos fazem parte do processo.
Livre Trânsito
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112,
tel. 3131-3652)
Quando: hoje, às 19h30
Quanto: R$ 10
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