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MOSTRA DE DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA
Última etapa mostra sintonia do Teatro Promíscuo com seu tempo
SILVIA FERNANDES
ESPECIAL PARA A FOLHA
A sintonia do Núcleo Teatro
Promíscuo com seu tempo é
visível no encerramento da Mostra de Dramaturgia Contemporânea, que sinaliza algumas linhas
do teatro brasileiro recente ou de
tradição mais longa, como o besteirol, o teatro político e o do comediante nacional.
Em "Cordialmente Teus", Aimar Labaki continua uma dramaturgia atenta às contradições históricas do país, definida, de forma
paradigmática, por Oduvaldo
Vianna Filho e Gianfrancesco
Guarnieri, e preocupada em inserir as personagens em contextos
exemplares, para fazê-las representantes de estratos sociais mais
amplos. Aqui o contexto é recortado em episódios épicos de cronologia distinta, tendo como fio
condutor os flagrantes de resistência do "homem cordial" brasileiro aos 500 anos de opressão. As
falas contundentes indicam a
qualidade do dramaturgo e ganham impacto maior nas sínteses
contemporâneas.
Como todo besteirol, "Os Marcianos", de Marcelo Rubens Paiva, trabalha equívocos sexuais
numa situação de nonsense em
que astronautas colonizam o palco com gratuidade tão escancarada que talvez esconda a tentativa
de crítica pelo avesso. A vantagem
é que o gênero se apóia no improviso dos atores e na comunicação
direta com o público.
Quanto ao texto de Hugo Possolo, sem dúvida é o mais complexo do ponto de vista das referências que associa. Não é novidade
que o dramaturgo trabalhe com
seu grupo, os Parlapatões, na trilha do palhaço-ator de rua, de onde veio a comunicação anárquica
de "Sardanapalo". No caso de "A
Meia Hora de Abelardo", essa herança é canalizada para um exercício metalinguístico de sobreposição de palhaços de uma linhagem brasileira que inclui Abelardo Pinto, o Piolin, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, Abelardo I, o
protagonista de "O Rei da Vela",
de Oswald de Andrade, e, finalmente, o próprio Renato Borghi,
que criou a personagem na antológica montagem de Zé Celso, em
1967. Borghi apresenta, em seu
próprio nome, a combinatória de
Abelardos, resumida num ator de
fotonovelas que assassina mulheres mascaradas. A direção de Alvize Camozzi e Mauricio Paroni
de Castro formaliza essa reflexão
chapliniana sobre a morte e o
tempo da fama, 15 minutos, segundo Andy Warhol, que Luah
Guimarãez cita em seu desempenho contido, semelhante ao de
Débora Duboc. Ambas compatíveis com a encenação, que ralenta
a comicidade de Borghi e Elcio
Nogueira Seixas. Talvez o desejo
de ver os atores histriônicos como
os comediantes de quem são herdeiros desminta a brevidade da
fama e confirme um teatro brasileiro de longa memória.
Silvia Fernandes é professora de história do teatro da ECA-USP
"Cordialmente Teus", "Os
Marcianos" e "A Meia Hora de
Abelardo"
Quando: última apresentação, hoje, às
19h
Onde: Teatro Popular do Sesi (av.
Paulista, 1.313, tel. 3284-3639)
Quanto: entrada franca (retirar ingr.
com 1h de antecedência)
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