São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

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Crítica/"Oceano"

Seguindo tradição, Roda Brasil faz frente ao Cirque

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

"Pelo preço de uma cadeira de lá, dá para comprar uma fileira daqui." A comparação inevitável com o onipresente Cirque du Soleil parte do próprio picadeiro do circo Roda Brasil, na boca do mestre-de-cerimônias Raul Barreto, do alto do seu currículo impecável de provocador e promotor do circo popular brasileiro.
Encorajados pela experiência bem-sucedida do espetáculo "Pano de Roda", de 2002, que rodou o Brasil em um picadeiro a céu aberto, e a exemplo do circo Zanni, que desde 2003 propõe uma sofisticada releitura do circo mambembe, o Roda Brasil se origina na fusão de dois grupos de teatro-circo, Parlapatões e Pia Fraus, que assim obtêm estrutura suficiente para bancar uma lona.
E que bela lona: 32 m de diâmetro, com capacidade para 700 pessoas, acolhido pelo Memorial da América Latina. Ainda não há o marketing arrasa-quarteirão e o endosso incondicional das elites conquistado pelo Cirque du Soleil, mas a briga está ficando boa. Superado o mambembe, os condenáveis números de animais são substituídos pelos belos infláveis do Pia Fraus, trazidos por Beto Andreeta, e os números tradicionais de circo, escolhidos na melhor tradição de testes entre a nova geração, alinhavados pela imaginação anarquista de Hugo Possolo.
Os Parlapatões, que estavam completos no elenco de "Stápafurdyo", o espetáculo inaugural do Roda Brasil, de 2006, nesse segundo espetáculo se fazem representar por Raul Barreto, que se multiplica em vários sotaques e figurinos, de acordo com as necessidades da trama.
"Oceano", como seu nome indica, é um painel de imagens submarinas, expressas por trapézio, patins, malabares fosforescentes e equilibristas, com um impacto visual que produz o mesmo fascínio nos pais e crianças, mesmo as menores.
O figurino e cenário são luxuosos: basta citar esse polvo de guarda-chuvas que se transforma em corais que acompanham a musculosa coreografia dos acrobatas. As reprises de palhaços já nascem clássicos, como os peixinhos que mantêm um mergulhador no aquário. Sem a empáfia do Cirque du Soleil, o Roda Brasil poderia agora fazer melhor e fazer da tênue trama teatral (um garoto vai buscar no oceano seu patinho que escoou pelo ralo da banheira) algo mais consistente. Mas por enquanto tem à frente a estrada ávida de um país que merece um circo como este.


OCEANO
Quando: qui. e sex., às 21h; sáb., às 16h e 21h; dom., às 16h e 19h; até 24/8
Onde: Memorial da América Latina (r. Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel.: 3867-2398)
Quanto: R$ 30
Classificação indicativa: livre
Avaliação: bom




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