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Crítica/"Oceano"
Seguindo tradição, Roda Brasil faz frente ao Cirque
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Pelo preço de uma cadeira de lá, dá para
comprar uma fileira
daqui." A comparação inevitável com o onipresente Cirque
du Soleil parte do próprio picadeiro do circo Roda Brasil, na
boca do mestre-de-cerimônias
Raul Barreto, do alto do seu
currículo impecável de provocador e promotor do circo popular brasileiro.
Encorajados pela experiência bem-sucedida do espetáculo "Pano de Roda", de 2002, que
rodou o Brasil em um picadeiro
a céu aberto, e a exemplo do circo Zanni, que desde 2003 propõe uma sofisticada releitura
do circo mambembe, o Roda
Brasil se origina na fusão de
dois grupos de teatro-circo,
Parlapatões e Pia Fraus, que assim obtêm estrutura suficiente
para bancar uma lona.
E que bela lona: 32 m de diâmetro, com capacidade para
700 pessoas, acolhido pelo Memorial da América Latina.
Ainda não há o marketing arrasa-quarteirão e o endosso incondicional das elites conquistado pelo Cirque du Soleil, mas
a briga está ficando boa. Superado o mambembe, os condenáveis números de animais são
substituídos pelos belos infláveis do Pia Fraus, trazidos por
Beto Andreeta, e os números
tradicionais de circo, escolhidos na melhor tradição de testes entre a nova geração, alinhavados pela imaginação
anarquista de Hugo Possolo.
Os Parlapatões, que estavam
completos no elenco de "Stápafurdyo", o espetáculo inaugural
do Roda Brasil, de 2006, nesse
segundo espetáculo se fazem
representar por Raul Barreto,
que se multiplica em vários sotaques e figurinos, de acordo
com as necessidades da trama.
"Oceano", como seu nome
indica, é um painel de imagens
submarinas, expressas por trapézio, patins, malabares fosforescentes e equilibristas, com
um impacto visual que produz
o mesmo fascínio nos pais e
crianças, mesmo as menores.
O figurino e cenário são luxuosos: basta citar esse polvo
de guarda-chuvas que se transforma em corais que acompanham a musculosa coreografia
dos acrobatas. As reprises de
palhaços já nascem clássicos,
como os peixinhos que mantêm um mergulhador no aquário. Sem a empáfia do Cirque du
Soleil, o Roda Brasil poderia
agora fazer melhor e fazer da
tênue trama teatral (um garoto
vai buscar no oceano seu patinho que escoou pelo ralo da banheira) algo mais consistente.
Mas por enquanto tem à frente
a estrada ávida de um país que
merece um circo como este.
OCEANO
Quando: qui. e sex., às 21h; sáb., às
16h e 21h; dom., às 16h e 19h; até 24/8
Onde: Memorial da América Latina (r.
Auro Soares de Moura Andrade, 664,
tel.: 3867-2398)
Quanto: R$ 30
Classificação indicativa: livre
Avaliação: bom
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