São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

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Masp exibe expressionismo alemão

Mostra reúne 19 obras de Paula Modersohn-Becker e 73 trabalhos de artistas do grupo de Worpswede

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Na noite de Réveillon, virada para o século 20, Paula Modersohn-Becker abandonou o povoado alemão de Worpswede para viver parte da vida que chamou de "celebração curta e intensa" em Paris. Lá, viu os quadros de Van Gogh, Gauguin e Cézanne -os deste último, como escreveu em seu diário, eram como uma tempestade.
A artista alemã faria depois constantes viagens entre a capital francesa e o vilarejo de Worpswede, onde se radicara com outros cinco artistas em busca de maior contato com a natureza. Por isso, foi a artista que serviu de ponte entre o impressionismo francês de Van Gogh, que também preferia o campo à cidade, e o expressionismo alemão de Otto Dix e George Grozs, nos anos 20.
São 19 obras de Modersohn-Becker ao lado de outros 73 trabalhos de artistas do chamado grupo de Worpswede que o Masp exibe a partir de hoje.
"É uma semente de mudança que depois explode com grande força 20 anos mais tarde na Alemanha", resume o curador do Masp, Teixeira Coelho.
Num momento de crescimento descontrolado das cidades, o início do século 20 viu entre artistas e intelectuais uma repulsa à vida urbana e tentativas de retorno ao campo, começando pela escola paisagística de Barbizon, na França, que inspirou comunidades parecidas em toda a Europa.
Worpswede, na Alemanha, concentrou Modersohn-Becker, seu marido Otto Modersohn, Fritz Overbeck, Heinrich Vogeler, Fritz Mackensen e Hans am Ende, todos com obras agora no Masp.
Também migrou para Worpswede o poeta alemão Rainer Maria Rilke, que ajudou a dar visibilidade ao grupo de artistas. A poesia que escreveu lá parecia justificar o isolamento: "Os caminhos e cursos d'água nos levam ao horizonte, onde começa um céu de variedade e imensidão indescritíveis, refletido em cada folha". Mas a força motriz foi mesmo Modersohn-Becker, que avançou no traço rumo à modernidade, incorporando as formas simples e a construção a partir do volume -técnica que alçou Cézanne à condição de gênio- à arte alemã.
A gravura "A Mulher com o Ganso" (1902) é o exemplo mais claro desse avanço. A ave é uma mancha branca compacta sobre um fundo negro, em contraste com a mulher -por sua vez, um volume cúbico.
"Acho que todos estão chocados comigo, mas preciso continuar", escreveu Modersohn-Becker à irmã, Milly, sobre a reação dos contemporâneos a seus trabalhos. "Não posso recuar, vou adiante, só que no meu espírito e na minha pele."

PAULA MODERSOHN-BECKER E OS ARTISTAS DE WORPSWEDE

Quando: de ter. a dom., das 11h às 18h; qui., das 11h às 20h; até 5/10
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 3251-5644; livre)
Quanto: R$ 15; grátis às terças



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