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NEO-ALIADOS
Líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PC do B) afirma que críticos não captaram significado da gestão petista
Líder de Lula vê identidade com PP de Maluf
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O líder do governo na Câmara,
Aldo Rebelo (PC do B-SP), acusa
deputados do PT de "voluntarismo" pelas críticas à política econômica. Diz também haver identidade do governo Lula e do PC do
B com o "PP de Maluf", força política tida como de direita, porque
todos defendem "ampliação do
mercado interno e do comércio
exterior" e "geração de emprego".
Rebelo afirma que os radicais
petistas e o presidente nacional do
PDT, Leonel Brizola, fortalecem a
"oposição conservadora" ao se
articularem contra o presidente.
Para o líder do governo, os críticos repetem os erros da esquerda
que viveu a Revolução de 30 e a
tensão antes do suicídio de Getúlio Vargas (1954) e do regime militar de 64.
A seguir, trechos da entrevista.
Folha - O economista Luiz Carlos
Mendonça de Barros, uma espécie
de ideólogo dos "desenvolvimentistas", diz que o atual governo
abraça a agenda morta de FHC e
que a reforma da Previdência é
apenas um ritual de passagem do
PT para conquistar o mercado.
Aldo Rebelo - Em linguagem militar, é a clássica figura do fogo de
barragem. Na retirada, autoriza-se uma última leva de fogo para
proteger sua saída do terreno.
Mais do que ninguém, o sr. Mendonça de Barros sabe que essa
agenda guarda atualidade exatamente pela incapacidade do governo anterior de implementá-la.
Recebemos um país descreditado.
Folha - Mendonça de Barros diz
que os indicadores econômicos se
deterioraram na eleição pela desconfiança dos mercados em relação
a Lula.
Rebelo - A preocupação era em
relação ao passivo dos oito anos
do governo FHC. Qualquer governo enfrentaria dificuldade. Isso foi agravado pelo então presidente FHC, que chegou a falar em
"argentinização". Isso nos obrigou a usar remédio amargo, mas
com confiança na cura.
Folha - Economistas dizem que
esse "remédio amargo" é cópia da
receita do governo anterior, que o
sr. e o PT combatiam. Não é contradição aplicar a mesma receita?
Rebelo - Não se pode julgar
aquele que conduz um carro pelas
manobras que tem de fazer para
escapar de um acidente. Deve julgar pelo objetivo atingido e pela
rota traçada. A nossa agenda não
é ortodoxa. Não tem como objetivo viver de taxas de juros, mas retomar o crescimento econômico
para gerar emprego...
Folha - Até agora os números
mostram que a economia está estagnada. FHC dizia que a finalidade da sua política era crescimento
sustentado, mas ficou prisioneiro
de uma armadilha para agradar o
mercado. Os srs. estão presos?
Rebelo - Não. A política econômica de FHC criou um país mais
vulnerável. Nós estamos no caminho para corrigir isso.
Folha - O que o governo faz de diferente para permitir isso?
Rebelo - Faremos as duas reformas, que o governo anterior não
conseguiu. E vamos sair da atual
fase, que é de transição.
Folha - O que une o PC do B ao PP
de Maluf para estarem juntos no
governo Lula?
Rebelo - Se pudesse resumir o lema do governo Lula seria: unir o
Brasil para mudar o Brasil. Quando mais o Brasil mudou foi quando mais ele esteve unido. Nossa
história mostra isso.
Folha - É pragmatismo para ter
votos no Congresso?
Rebelo - Não é. Temos identidade com o PP do Maluf.
Folha - Que identidade é essa?
Rebelo - O PP do Maluf tem uma
base no setor agrícola preocupada
com o desenvolvimento, com a
ampliação do nosso mercado interno e do comércio exterior e,
portanto, preocupada com a geração de emprego e renda. Essas são
preocupações do governo.
Folha - O PP e o PMDB, que
apóiam o governo, estavam com
FHC. Por que o sr. e o PT criticavam
a aliança com o governo anterior?
Rebelo - Eles estavam no navio,
mas não estava na ponte de comando. Talvez estivessem no porão. Na ponte de comando do navio Brasil tem alguém que transmite confiança e que tem capacidade de agregar efetiva.
Folha - 30 deputados do PT se rebelaram contra a política econômica. Os radicais cobram coerência
com o passado. Brizola já disse que
Lula mudou de lado. Como lidar
com isso? O governo vai aumentar
a dependência de alianças ao centro e à direita?
Rebelo - O manifesto dos deputados defende o que o governo defende e é oposição às reformas. O
que talvez eles não compreendam
é que nós vamos ter o momento
exato em que a transição para essa
retomada do crescimento vai estar concluída. Nesse caso, vejo
certa manifestação de voluntarismo, que não é uma coisa estranha
à história nem à tradição de setores da esquerda.
Folha - Essa esquerda empurra o
governo para a direita, em busca
de apoio no Congresso?
Rebelo - Não. Na hora decisiva, a
base estará coesa e votando com o
governo. Não misturamos as críticas de alguns setores, como é o
caso do manifesto dos deputados,
que fizeram crítica circunscrita à
política econômica, com outras
atitudes que indicam um equívoco político mais profundo e recorrente de setores da esquerda ao
longo da história do Brasil.
Se há na esquerda quem imagine que a alternativa é construir
uma oposição de esquerda ao governo Lula vai reproduzir os mesmos equívocos que a esquerda incorreu em 30, em 54 e 64, com
consequências muito ruins.
Quando há um governo progressista, o equívoco de setores da esquerda é achar que já podem superá-lo, construindo uma oposição mais à esquerda e, aí sim,
abrindo caminho para o fortalecimento da oposição conservadora.
Folha - Brizola e os radicais do PT
cometem esse erro?
Rebelo - Brizola, um patriota e
um patrimônio pela luta e pelos
direitos do povo, talvez não tenha
compreendido o significado do
governo Lula. Os chamados radicais também talvez não.
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