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JANIO DE FREITAS
É só isso, mesmo
Luiz Inácio Lula da Silva,
presidente: "Não posso fazer uma política econômica de
sobressaltos. / Os juros não podem baixar de modo estabanado". Alguém propõe uma política de sobressaltos? Quem pediu
redução de juros de modo estabanado?
Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda: "O crescimento
não vem por geração espontânea, não brota em árvore. / Não
é só puxar um gatilho e o país
vai crescer sem parar, infelizmente não é assim". E você, leitor, neobobo hoje como Lula e
Palocci durante os anos fernandinos, até agora não percebera
que árvore é igual à política
econômica de Palocci/Malan/
FMI, de nenhuma das duas podem brotar crescimento e emprego.
Dentro das mesmas 24 horas
em que Lula e Palocci repisaram o seu modo caricato de tergiversar sobre a política econômica, duas outras estrelas governistas fizeram suas considerações.
Guido Mantega, ministro do
Planejamento: "No segundo semestre esse quadro [desemprego e economia estagnada] já estará revertido". É, portanto, já
no mês que vem o início de "um
surto de crescimento".
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, depois de
afirmar que o início do crescimento depende do controle sobre a inflação: "A inflação ainda não está controlada".
Essa inflação teve, afinal,
uma explicação oficial, dentro
ainda das mesmas 24 horas, de
quarta para quinta-feira, da
explosão de humorismo governamental. Estava na divulgação de uma ata do Comitê de
Política Monetária, o tal Copom, e foi endossada em pessoa
por Henrique Meirelles (na sexta-feira): "A persistência da inflação tem sua origem nos reajustes de preços e salários ocorridos desde o início deste ano,
que se basearam na elevada taxa de inflação dos últimos 12
meses, e não na sua projeção futura". Daí a recomendação de
Meirelles para reajustes com
base em previsões da inflação
futura.
Como poderiam ser as reposições, em preços e salários, das
perdas com "a elevada taxa de
inflação", sem aplicar essas taxas como medida do reajuste? A
menos que a suposta "inflação
futura" fosse igual à inflação
passada, e as suposições de
Henrique Meirelles e do BC não
são essas, constata-se que a solução antiinflacionária do banco e de seu presidente depende
de que os empresários, além de
continuarem na tradição de recusar reposições reais nos salários, passem a produzir e comercializar com prejuízos crescentes.
Diante desse espetáculo de seriedade e lucidez recolhido em
apenas 24 horas do governo, valeria a pena encerrar com algum comentário?
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