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Roberto Jefferson vê "pragmatismo" no inchaço de seu partido e alega afinidade ideológica com o PT
Líder do PTB admite cargos e elogia Dirceu
Alan Marques - 20.mai.03/Folha imagem
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O líder do PTB, deputado Roberto Jefferson, discursa na Câmara |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PTB é a maior vedete deste
início de mandato do governo
Luiz Inácio Lula da Silva. Elegeu
26 deputados em outubro passado. Na sexta-feira, estava com 48.
Um crescimento de 22 cadeiras
-ou 84,6%.
Como esses 22 deputados foram
cooptados? Para o líder do PTB na
Câmara, Roberto Jefferson (RJ),
as filiações ocorreram por razões
ideológicas e pragmáticas.
No caso do pragmatismo, cargos. O PTB tem o Ministério do
Turismo e a presidência da Infraero. São os postos mais visíveis.
Mas recebeu também posições na
Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) de Paraná, Mato Grosso e
Tocantins. No Rio de Janeiro e no
Paraná, há indicados do partido
nas delegacias regionais do trabalho espalhadas no país.
Há um roteiro quando um deputado quer entrar no PTB. Primeiro, fala com Roberto Jefferson
-congressista polêmico, que
apoiou o governo de Fernando
Collor (1990-1992). Depois, o líder
petebista faz um contato com a
Casa Civil, comandada pelo ministro José Dirceu.
"Ele [Dirceu] não veta, mas
quando ele não demonstra muito
entusiasmo, a gente sabe que não
adianta enfrentar a posição.
Quando ele diz: "Vamos ver".
Quando ele diz isso eu já senti que
morreu", relata Jefferson, para
quem o ministro da Casa Civil
tem sido "muito correto".
A seguir, trechos da entrevista
de Jefferson
(FR):
Folha - O PTB elegeu 26 deputados federais e hoje tem 48. Vai parar por aí?
Roberto Jefferson - Vamos chegar a 56 e vamos parar por aí. Explodindo, 60. Mas 56 com certeza.
Nesta semana que entra bateremos em 50 deputados.
Há 14 deputados federais do
PSDB pensando em sair. Mas em
bloco não vêm, porque na base dá
conflito. Vão uns para o PTB,
quatro para o PP, uns três ou quatro para o PMDB.
Folha - Como é a participação do
PTB no governo com cargos?
Jefferson - Nós só temos um ministério [do Turismo, com Walfrido Mares Guia] e uma crise na
Infraero, pois o Carlos Wilson
[ex-senador por Pernambuco]
não atende ninguém nem telefone. Vamos devolver a Infraero
com ele dentro.
Folha - Como assim?
Jefferson - É. Porque ele assumiu um monte de compromissos
com deputados que não cumpre e
gera crises para a gente. O Zé Dirceu diz assim: "Eu não aguento
mais o Carlos Wilson".
Folha - O que ocorre?
Jefferson - Ele não dá bola. Ele
assumiu compromisso de nomear um cara superintendente, o
outro gerente de um aeroporto. E
ele não faz nada disso.
Folha - O PTB está sugerindo nomes para cargos no governo?
Jefferson - É claro que sim. Algumas das pessoas já foram nomeadas.
Folha - Quem?
Jefferson - Não vamos pôr isso,
não. Aí eu exponho o meu companheiro que fez. Algumas já foram contempladas. Vamos falar o
Estado sem contar o santo: Paraná, Mato Grosso e Tocantins na
Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Delegacia do
Trabalho no Rio e no Paraná. No
Norte, na área de administração
da empresa de eletricidade.
Folha - Quando o deputado entra
no PTB ele pergunta sobre se o governo vê essa ação com bons olhos?
Jefferson - É claro que sim.
Folha - Como funciona?
Jefferson - É assim mesmo. Primeiro, o deputado vem ao partido
e conversa. Depois, eu converso
no governo. E digo: "Olha, eu estou conversando com fulano, fulano e fulano. Posso trazer para o
PTB?". Se eu receber uma sinalização, "não há problema", não
tem veto do PT àquele nome. Eu
trago para o partido. Sem problema, está havendo isso, sim.
Folha - Fala-se com a Casa Civil?
Jefferson - É claro que sim. Articulação política do governo.
Folha - Como tem sido a atuação
do ministro José Dirceu?
Jefferson - Muito correto [o José
Dirceu].
Folha - Ele veta alguém?
Jefferson - Ele não veta, mas
quando ele não demonstra muito
entusiasmo, a gente sabe que não
adianta enfrentar a posição.
Quando ele diz: "Vamos ver".
Quando ele diz isso eu já senti que
morreu.
Folha - O sr. tem algum exemplo?
Jefferson - Os cinco deputados
de Pernambuco [filiados recentemente ao partido] tinham uma
preocupação de que o PTB teria
de apoiar o candidato a prefeito
do PT. Queriam ouvir do Zé Dirceu que o compromisso é na governabilidade. Aí se tranquilizaram.
Folha - E o que disse o ministro?
Teve uma reunião dos deputados
com ele?
Jefferson - Claro que sim. E comigo. No Palácio. É assim que temos feito, com muita correção do
Zé Dirceu.
Folha - Como o sr. responde às críticas de que esses deputados entram no PTB em troca de cargos ou
por fisiologia?
Jefferson - As teses do governo
são as que o PTB esposam. Reforma da Previdência, reforma tributária. Eu aposto que se fosse o fim
da propriedade privada e reforma
agrária na marra, ninguém ia
apoiar. Como as teses são convergentes, dá conforto para as pessoas caminharem para a base.
E esses críticos do PSDB e do
PFL têm de dizer isso porque eles
fizeram assim. Eles pagavam para
ter base.
Folha - Pagavam como?
Jefferson - Pagavam dando cargo, dando estrutura de poder.
Folha - Mas agora os deputados
entram para o PTB e recebem cargos. Não se configura também o
"pagamento"?
Jefferson - Se você for governo e
não tiver poder, é melhor não ser
governo.
Folha - Mas o que diferencia a nomeação para os cargos hoje do que
ocorria antes?
Jefferson - Mas nós estamos no
governo desde a formação dele. E
governar é ter responsabilidade
junto. É claro que tem interesses
pragmáticos. Você não pode ser
político sem poder. Mas tem interesses ideológicos também. As teses aproximam. Antes era mero
fisiologismo.
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