|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Migração para a base governista predomina no primeiro ano, mas tende a refluir no terceiro
Mudança de partido acompanha eleição para o Executivo
DA REDAÇÃO
As mudanças de partido não
são aleatórias, mas seguem um
padrão definido pelo ciclo eleitoral. Como explica o cientista político Carlos Ranulfo Melo, 46, as
migrações na Câmara se concentram no primeiro e no terceiro
ano de cada legislatura.
"No primeiro ano, o deputado
se adapta ao resultado do ciclo
eleitoral passado; no terceiro, ele
procura se ajustar ao ciclo eleitoral seguinte", observa Ranulfo,
que é professor titular de ciência
política da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais).
No início do mandato, o parlamentar tenta se reacomodar às
mudanças nos Executivos federal
e estadual, procurando partidos
que possam oferecer mais recursos. No terceiro ano, o deputado
procura a legenda mais propícia
para conseguir sua reeleição.
Um estudo de Ranulfo ("Migração partidária, estratégias de sobrevivência e governismo na Câmara dos Deputados", que será
publicado no livro "O sistema
partidário na consolidação da democracia brasileira", do Instituto
Teotônio Vilela), revela que, na legislatura 1995-1999, 40,1% das
trocas ocorreram no primeiro
ano e outras 43,0% no terceiro; já
na legislatura 1999-2003, 45,3%
das trocas se deram no primeiro
ano, e 40,0%, no terceiro.
No primeiro ano da legislatura,
a migração partidária é predominantemente governista; no terceiro ano, nem sempre. No segundo
mandato de Fernando Henrique
Cardoso, por exemplo, a maioria
das trocas ocorridas durante todo
o ano de 1999 teve uma direção
governista em 70% dos casos. Já
em 2001, 61% das mudanças ocorreram no sentido contrário: a impopularidade do governo e a expectativa de derrota da coalizão
tucana levaram os deputados a
procurar abrigo na oposição.
Um ciclo semelhante ocorreu
no governo de José Sarney (85-90), no qual a tendência governista cedeu lugar, no final da gestão,
a uma migração oposicionista.
Para o cientista político André
Marenco dos Santos, 40, da
UFRGS (Universidade Federal do
Rio Grande do Sul), o que singulariza a atual movimentação é o
comportamento do PT, "mais impermeável ao ingresso de novos
deputados", que produziu um fenômeno distinto do verificado
nos governos anteriores: o partido que mais recebeu adesões não
foi o líder da coalizão, mas as siglas aliadas -no caso, PTB e PL.
"Quem mais perdeu foram os
partidos de oposição, quem ganhou foram os partidos governistas. Mas esse movimento terminou beneficiando outros partidos
conservadores", diz Marenco.
O deslocamento da oposição
para o governo está balizado, portanto, por um outro padrão: como observa a cientista política Argelina Figueiredo, 55, professora
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a grande
maioria das trocas ocorre entre
partidos que ocupam a mesma
posição no espectro político.
Na realidade, a transferência se
dá sobretudo de um partido conservador (não-governista) para
outro partido conservador (alinhado ao governo): a migração
entre legendas de esquerda é bem
menos frequente, assim como a
mudança de um parlamentar de
um bloco ideológico para outro.
"Mudou a natureza da coalizão
governista, que é bem mais fragmentada que a de FHC e muito
mais heterogênea do ponto de
vista ideológico", diz Argelina: "A
nova coalizão criou uma área de
absorção maior, que incentivou
um maior número de migrações".
Além de obedeceram a esse balizamento ideológico, as trocas
também variam com a densidade
política do deputado. Migram
principalmente os congressistas
que que não ocupam cargos no
Legislativo (na Mesa Diretora ou
nas comissões da Câmara) ou no
Executivo, como nota Ranulfo.
O cientista político assinala ainda que o atual padrão de migração não existiu sempre, mas surgiu com a desagregação do regime militar. Em 1985, uma onda de
deputados trocou o PDS, derrotado no pleito presidencial, pelo
PFL. Na legislatura seguinte, a cisão do PMDB provocou uma segunda leva de transferências. É só
a partir de 1991 que começa a se
delinear um padrão de mudanças
ajustado ao ciclo eleitoral, que se
consolidou na era FHC.
Texto Anterior: Lula mantém apadrinhados de políticos da oposição Próximo Texto: Líder do PTB admite cargos e elogia Dirceu Índice
|