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CÚPULA DE EVIAN
G8
Discussão sobre juros e crescimento domina viagem de Lula e sua comitiva à Europa, para a reunião do G8
Palocci diz que objetivo é "esquartejar a inflação"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LAUSANNE
O objetivo do governo é "matar
e esquartejar a inflação", não apenas reduzi-la.
A frase pertence ao ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho, e
serve de explicação para o fato de
o Banco Central não ter reduzido
os juros na reunião do mês passado de seu Comitê de Política Monetária, o Copom, fato que ainda
causa muito ruído entre empresários e nos jornais.
Tanto ruído que a conversa informal que Palocci se dispôs a ter
ontem com os jornalistas brasileiros que cobrem a reunião do G8
(os sete países mais ricos do mundo e a Rússia) transformou-se em
um debate sobre juros, crescimento e política econômica.
O ministro acha que "não há como gerar crescimento e enfrentar
o problema da inflação ao mesmo
tempo". Corolário inevitável dessa tese é que a alternativa aos juros
altos (e superávit fiscal também
elevado) seria "tolerar a inflação".
Palocci rejeita frontalmente a
hipótese: "O Brasil já fez isso no
passado. Pode até haver crescimento maior no curto prazo, mas
leva a um desastre absolutamente
certo no longo prazo".
O ministro diz que, projetando-se os índices inflacionários dos
três últimos meses de 2002 e de janeiro de 2003, chegar-se-ia a uma
inflação de quase 40% ao final do
ano, o primeiro do governo Lula.
Por isso, "a fase inicial do governo tinha como objetivo impedir
que a inflação saísse de controle."
Objetivo cumprido? Mais ou menos. "A política monetária está
funcionando, mas não na velocidade que a gente gostaria. Os preços ao consumidor caem muito
lentamente."
Completa o ministro: "Vivemos
um momento essencial do combate à inflação, em que ela começa
realmente a cair, mas precisamos
dar o tiro final".
A Folha observou que o ministro talvez estivesse simplificando
as coisas ao insinuar que a alternativa para crescimento seria inexoravelmente uma inflação alta.
Palocci discorda. "Não se trata
de inflação versus crescimento,
mas de dar condições para o Brasil crescer sem inflação." Disse
que a discussão sobre juros e crescimento ocorreu também no
avião que levou o presidente e comitiva a Genebra (presentes os
ministros Luiz Fernando Furlan,
do Desenvolvimento, Celso Amorim, Relações Exteriores, e Jacques Wagner, Trabalho, além de
Palocci e do assessor diplomático
de Lula, Marco Aurélio Garcia).
"Redução de juros é importante, mas não é suficiente. O crescimento tem que ser trabalhado e
incentivado", afirma o ministro.
O que Palocci chama de "política de crescimento" inclui aumentar o financiamento público e privado; recuperar a infra-estrutura;
e adotar políticas industriais acopladas a ciência e tecnologia.
O ministro falou ainda sobre
políticas industriais que estão em
discussão. "É melhor demorar
um pouco [para adotar as políticas] e não errar na escolha."
O ministro fez o maior empenho em negar que a política de
Lula seja igual à de Fernando
Henrique Cardoso. A diferença
estaria dada pelas "políticas de
crescimento". Além disso, Palocci
nega a FHC a paternidade de programas como o de metas de inflação e o superávit fiscal.
"Superávit fiscal tem que durar
tantos anos quanto durar qualquer governo", afirma Palocci.
Além disso, o ministro acredita
que, no nível atual, o superávit fiscal não impede o crescimento.
Não é apenas no superávit fiscal
que o ministro é ortodoxo. "Redução de juros com controle cambial e política para evitar a queda
do dólar, tô fora." O ministro
aproveitou para negar que o fato
de o governo não estar rolando a
totalidade da dívida em dólares
significa "escolher o valor do dólar". "O governo não tem meta de
câmbio", disse.
Lula lá
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva chegou ontem às 9h30 (4h30
em Brasília) a Genebra. No avião,
o presidente discutiu o pronunciamento que fará hoje na reunião
do G8. Segundo o porta-voz da
Presidência, André Singer, o presidente vai defender a criação de
um fundo contra a fome e para o
financiamento de uma política de
infra-estrutura para os países em
desenvolvimento.
Lula viajou de helicóptero até
Lausanne, onde está hospedado
no hotel Beau Rivage.
O presidente teve encontros bilaterais com o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, do Senegal, Abdoulaye Wade, e com o
príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz al
Saud. O governo quer estreitar relações com esses países.
Lula participou ainda da cerimônia de boas-vindas do presidente da Suíça, Pascal Couchepin.
Colaborou Maria Luiza Abbott, enviada
especial a Lausanne
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