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Em Evian, presidente americano encontra pela primeira vez Jacques Chirac, o principal líder que se opôs à invasão do Iraque
França deve mostrar apoio aos EUA, diz Bush
CHARLES LAMBROSCHINI
DO "LE FIGARO"
Para o presidente norte-americano George Bush, "a Cúpula de
Evian não será um encontro de
confronto". "Conto com a chance
de uma boa discussão com Jacques Chirac", afirmou Bush. "Será necessário, é claro, que eu trabalhe para convencer os franceses
que duvidam da sinceridade norte-americana. Mas Chirac e os líderes da França devem trabalhar
para convencer seus concidadãos,
e mostrar que a França está pronta a cooperar com os EUA."
As declarações de Bush foram
feitas a cinco jornais de cinco países que o presidente visitaria em
sua nova viagem internacional
-Polônia, Rússia, França, Egito e
Arábia Saudita. "Le Figaro" representou a França na entrevista.
Pergunta - Os norte-americanos
venceram sua guerra contra o Iraque. Mas, hoje, os iraquianos conhecem apenas o caos. Quanto
tempo vai durar a ocupação do país
pelos EUA e pelo Reino Unido?
George W. Bush - O senhor fala
como se a insegurança reinasse
em toda parte. Não é verdade. A
anarquia se limita a Bagdá e à região ao norte da capital. E progressos são visíveis a cada dia. Estamos conscientes das dificuldades do povo iraquiano, que espera
a volta de uma vida normal.
Toda essa gente quer a segurança no cotidiano, quer comida na
mesa, quer lâmpadas acesas, esgotos que funcionem. Quanto a
todos esses assuntos, avançamos
a cada dia. O povo iraquiano conheceu uma geração de escravidão sob o jugo de um torturador.
Graças a nós, os iraquianos estão
livres. Portanto, considero injusto
o uso da palavra "ocupação". Os
Estados Unidos e seus aliados foram à guerra para que os iraquianos pudessem instaurar o governo que preferissem, para que o
petróleo iraquiano pudesse financiar a reconstrução do Iraque.
Tudo isso exige tempo. Vocês se
lembram de que os norte-americanos só conseguiram concluir a
redação de sua Constituição 13
anos depois da independência? Só
permaneceremos pelo tempo necessário a que os iraquianos possam se autogovernar. Não temos
a intenção de ser ocupantes.
Pergunta - A guerra deixou de lado a maior parte das instituições
internacionais -Otan, ONU e
União Européia. O que fazer para
lhes devolver a eficácia?
Bush - Prevejo papel robusto para a Otan no futuro. A aliança deve evidentemente se reformar.
Para modernizar seus armamentos e se adaptar a missões que não
tem mais nada a ver com sua vocação original, a de combater a
ameaça soviética. A Otan deve
continuar se concentrando na paz
e na liberdade do mundo, como o
demonstram sua presença no
Afeganistão e seu apoio às atividades da Polônia no Iraque.
O mesmo vale para as Nações
Unidas; devem ser capazes de responder às novas ameaças que teremos de enfrentar. É preciso, no
entanto, que a ONU comece a
aplicar suas resoluções. Eu o declarei na tribuna das Nações Unidas, no primeiro aniversário do
ataque terrorista de 11 de Setembro. Para ser preciso, eu repeti pelo menos uma dúzia de vezes que
a ONU tinha de respeitar suas
próprias decisões. Não serve a
ninguém fazer discursos caso estes não tenham efeito. Quando à
Europa, repito: a quero unida, livre e amiga dos Estados Unidos.
Pergunta - O senhor levaria
adiante reformas que conduzam à
aceitação da Rússia na Otan e na
Organização Mundial do Comércio?
Bush - No que concerne à Otan,
a solução chegará quando for a
hora. Mas é preciso começar colocando em prática o quadro que
concebemos. Essa fórmula marca
um grande progresso e é testemunha das qualidades de liderança
de Vladimir Putin. Apesar dos desacordos que tivemos quanto ao
Iraque, podemos avançar. Devemos nos basear em nossas excelentes relações pessoais e criar
uma relação estratégica que envolva todos os assuntos chave.
A entrada da Rússia na OMC
depende, essencialmente, de decisões internas que o país tem de tomar para se conformar aos princípios da organização. Mas é do interesse dos EUA que a Rússia se
integre a essa organização.
Pergunta - Quando de sua criação, mais de 30 anos atrás, o G7,
depois ampliado com a inclusão da
Rússia, tinha por objetivo coordenar as políticas econômicas dos
países industrializados. Levando
em conta o risco de deflação, haverá um plano de coordenação em
Evian ou a solução será na base do
cada um por si, com os EUA contando com a queda do dólar?
Bush - Boa pergunta. É muito
importante que tomemos o tempo necessário a discutir juntos as
nossas respectivas economias. É
essencial que o G7 relembre as razões que presidiram à sua criação.
Nossos grandes objetivos serão
difíceis de realizar se nossas economias não forem fortes.
Direi também aos meus parceiros que os Estados Unidos praticam uma política monetária e fiscal sã. Vou lhes repetir que nossa
política é a de um dólar forte. Escutarei o que tiverem a me dizer
sobre seus propósitos de reforma
econômica. Será mais fácil a um
desempregado norte-americano
encontrar trabalho se nossos parceiros mais próximos tiverem
economias vigorosas.
Pergunta - Numerosos líderes
norte-americanos não param de repetir que a França deveria pagar o
preço de sua oposição à intervenção norte-americana no Iraque. O
senhor perdoou a França?
Bush - Por ocasião desta viagem,
decidi trabalhar com a França e
com seus dirigentes. Mas permita-me oferecer uma resposta realista. O povo norte-americano ficou frustrado e decepcionado
com a atitude francesa quanto ao
Iraque. Meus concidadãos não
compreenderam a decisão dos dirigentes franceses de contrariar
sistematicamente os esforços norte-americanos e de nossos aliados
para garantir a liberdade e a segurança do Iraque. No entanto, essa
conduta negativa não influenciará em nada minha conduta quanto à França e a Europa.
Quero uma Europa unida, livre
e pacífica. Quero uma Europa onde os países sejam livres para ser
amigos dos Estados Unidos e participar das instituições da União
Européia a um só tempo. Pode-se
haver divergências entre aliados,
mas aquilo que aproxima os Estados Unidos e a França, os Estados
Unidos e a Europa, continua a ser
infinitamente mais importante.
Nós compartilhamos dos mesmos objetivos quanto a todos os
assuntos vitais. A propósito da segurança de nossas democracias,
da paz do mundo e do comércio
entre as nações, estamos em larga
medida de acordo. A conferência
de cúpula de Evian não será um
encontro de confronto. Vai me
oferecer uma chance de falar com
os principais responsáveis políticos, quer estejam de acordo com
os Estados Unidos, quer tenham
divergências conosco.
A disputa entre Paris e Washington, no entanto, continua a
ser fundamental. Conto com a
chance de uma boa discussão
com Jacques Chirac. Será necessário, é claro, que eu trabalhe para
convencer os franceses que duvidam da sinceridade norte-americana. Mas Jacques Chirac e os líderes da França devem trabalhar
para convencer seus concidadãos,
e mostrar que a França está pronta a cooperar com os EUA.
Pergunta - O senhor não respondeu à minha primeira pergunta. Os
Estados Unidos organizarão represálias contra a França?
Bush - O senhor tenta fazer a
mesma coisa que a imprensa norte-americana. Certamente respondi sua primeira pergunta.
Mesmo que a resposta não o satisfaça, está gravada. Repito: terei
prazer em discutir com Jacques
Chirac. Vive la France!
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