|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2004/CAIXA
Dinheiro de empresas vai para as legendas e depois é direcionado para as campanhas
Partidos usam brecha para esconder doação eleitoral
RUBENS VALENTE
CÁTIA SEABRA
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
GUILHERME BAHIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos R$ 20,5 milhões foram doados ao PSDB e ao PT por
empresários durante as últimas
duas campanhas eleitorais, em
2002 e 2000, mas os nomes dos
doadores não foram registrados
nas contas dos candidatos e dos
comitês financeiros.
As doações foram feitas diretamente aos diretórios, que dos caixa únicos pulverizaram os recursos em dezenas de contas de comitês e candidatos, aproveitando
uma brecha na legislação.
O valor representa cerca de 62%
do total declarado pelos candidatos presidenciais de 2002 Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) e José
Serra (PSDB).
Assim, esse grupo de doadores
não aparece nas contas dos candidatos entregues à Justiça Eleitoral,
divulgadas à imprensa e disponibilizadas no site do TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) na internet.
"Pessoas me orientaram a doar
para o partido", disse o empresário petroquímico Sérgio Pedreira
de Cerqueira, que doou R$ 1 milhão ao diretório nacional do
PSDB em 2002 como pessoa física. Cerqueira disse que seu objetivo era que o dinheiro chegasse à
candidatura de José Serra (SP).
Outras duas empresas ouvidas
pela Folha confirmaram que os
recursos foram dados aos partidos já com a ordem de financiar
campanhas.
Além do maior sigilo, os empresários que aplicam dinheiro nas
campanhas usando os partidos ficam livres do limite previsto para
as doações eleitorais (2% do faturamento bruto do ano anterior à
eleição, para as pessoas jurídicas,
e 10% da renda bruta para as pessoas físicas).
Levantamento feito pela Folha
nos balanços financeiros dos diretórios regionais de São Paulo e nacionais do PSDB e do PT mostra
que empresas vinculadas por
contratos às administrações petistas e tucanas também usaram o
expediente.
Os documentos partidários redefinem a importância de algumas empresas no quadro geral do
financiamento das campanhas.
Um exemplo é a empresa de lixo
Vega Engenharia Ambiental, que
recebeu R$ 430,6 milhões por serviços prestados à gestão de Marta
Suplicy (PT) na Prefeitura de São
Paulo entre janeiro de 2001 e 18 de
junho de 2004.
Nas contas das campanhas de
Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência e de José Genoino ao governo paulista, incluindo as dos
comitês únicos eleitorais, a Vega
aparece com R$ 555 mil.
Nos balanços do diretório regional do PT e do diretório nacional do partido, contudo, esse número salta para R$ 1,58 milhão.
"Para mim, contribuir com o
partido pode ser mais democrático. Fazemos a doação e o partido
destina à candidatura que preferir", disse Luiz Gonzaga, diretor
de desenvolvimento e comunicação da Vega.
Outra empresa que presta serviços à gestão de Marta Suplicy, a
empreiteira Carioca Christiani
Nielsen Engenharia, doou R$ 219
mil para o diretório nacional em
30 de outubro de 2002 -além
disso, enviou mais R$ 100 mil em
outubro de 2003 para o diretório
estadual paulista.
A Carioca atua na construção da
menina dos olhos de Marta, os
CEUs (Centros Educacionais
Unificados), tendo recebido R$
80,4 milhões por serviços prestados à prefeitura entre setembro de
2002 e outubro de 2003.
Governo estadual
O maior doador para o diretório
regional paulista do PSDB no ano
eleitoral de 2002 foi o Banespa,
vendido ao Santander pela administração do PSDB em novembro
de 2000 e ainda hoje detentor das
contas do governo estadual.
Os depósitos do Banespa ocorreram entre setembro e outubro,
na fase final do primeiro turno
das eleições ao governo estadual.
O banco doou R$ 420 mil em 11
de setembro, R$ 400 mil, seis dias
depois, e R$ 300 mil em 17 de outubro. Oito dias depois do último
repasse, em 25 de outubro, e a
dois dias do final da disputa, uma
transferência de R$ 600 mil foi feito do partido para "o candidato
majoritário, o sr. Geraldo Alckmin", conforme detalha o extrato
de movimentação anexada pelo
PSDB ao processo de prestação de
contas que tramita no TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Os repasses "partidários" do
Banespa representaram quase
10% de todo o volume arrecadado
e declarado por Alckmin ao TRE
em sua campanha da reeleição
(R$ 12.455.372,00).
O diretório nacional do PSDB
superou em muito o nacional do
PT em volume de doações empresariais no ano de 2002. Enquanto
os petistas acolheram R$ 3,3 milhões em pessoas jurídicas, os tucanos encheram os cofres com R$
12,5 milhões. Isso sem contar as
doações de pessoas físicas, como
Sérgio Pedreira de Cerqueira e o
deputado federal e empresário
Ronaldo Cézar Coelho, que desembolsou R$ 660 mil entre abril
e junho daquele ano.
"Buraco"
O expediente de financiar candidaturas por meio do partido,
que o ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Torquato
Jardim chama de "o buraco negro" nas contribuições de campanha (leia reportagem à pág. A7),
tem o PT e o PSDB como os dois
grandes apoiadores.
A comparação dos balanços de
2000 e 2002 mostra uma tendência entre as duas siglas.
Em 2000, os tucanos arrecadaram apenas R$ 1,12 milhão em
doações, sendo R$ 880 mil de empresas. Dois anos depois, foram
R$ 14,4 milhões (sendo R$ 12,5
milhões de pessoas jurídicas).
Em 2000, o PT recebeu um total
de R$ 2 milhões em doações de
pessoas jurídicas, manteve o mesmo valor em 2001 e saltou para R$
3,3 milhões em 2002.
Nessa prática de doação "subterrânea" para as campanhas, PT
e PSDB estão bem à frente dos demais partidos pesquisados pela
reportagem. O PMDB e o PTB,
por exemplo, receberam apenas
R$ 500 mil cada (dos bancos Itaú e
Santander, respectivamente) no
ano eleitoral de 2002.
No caso peemedebista, foi a única doação da sigla, que superou
até o total das contribuições parlamentares (R$ 381,6 mil). Já o
PFL declarou não ter recebido um
centavo de doação em 2002, ano
das últimas eleições gerais.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Doações de empresas são declaradas à Justiça Eleitoral, afirmam partidos Índice
|