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ESTIAGEM
Água abastece somente a zona urbana de município do Piauí
A 15 km do maior açude, família não pode plantar
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PAULISTANA (PI)
Há três meses, o lavrador Cleosvaldo Isaías de Araújo, 37, construiu uma cerca com gravetos em
uma fazenda de Paulistana, a 450
km de Teresina (PI). Pelo serviço,
ele recebeu R$ 5. Depois, nunca
mais conseguiu outro trabalho.
Casado, com três filhos, de 3, 5 e
7 anos, o agricultor, desde então,
vem mantendo a família com as
sementes de feijão que restaram da
safra passada. Às vezes misturadas
com um punhado de arroz, elas se
transformaram na sua única refeição diária. A estiagem que dizimou as lavouras de subsistência
acabou também com as oportunidades de trabalho na região.
No terreno de 1,5 hectare onde
Araújo plantou milho, hoje só restam caules amarelados, secos, com
meio metro de altura. E na área
onde ele semeou o feijão, só pedras
e areia. Na casa de três cômodos,
sem piso, sem forro e sem eletricidade, a mulher do lavrador, Marilza Maria de Souza, 32, cozinha os
grãos em uma fogueira. Descalços
e com as roupas rasgadas, as crianças esperam a comida brincando
com um cachorro.
Araújo ainda tem uma lata de 18
litros cheia de sementes. Tem também oito galinhas e 13 patos, de
uma criação que, antes da seca, era
de 140 aves. "Estou vendendo aos
poucos, trocando por arroz, sal e
gordura", disse. "Isso é tudo o que
eu tenho. Depois que acabar, fica
nas mãos de Deus."
Além da comida, o agricultor está preocupado também com a
água usada para beber e cozinhar.
Ela é recolhida todos os dias de um
barreiro que está secando. Tem aspecto leitoso, "mas pelo menos
não é salgada", diz. Em duas semanas, calcula Araújo, só haverá lama
no local. Depois, ele terá que andar
cerca de seis quilômetros até chegar ao açude com água potável
mais próximo de sua casa.
Dezenas de famílias da região
passam pelas mesmas dificuldades. Isso, apesar de estarem a 15
quilômetros de um dos maiores
açudes da região, o Ingazeira.
Localizado na área urbana de
Paulistana, o reservatório tem capacidade para 24 milhões de metros cúbicos de água. Cada metro
cúbico equivale a mil litros.
Às suas margens, casas de alto
padrão com píers e plantações de
coco foram construídas por empresários da cidade. O verde das
árvores alimentadas por sistemas
de irrigação contrasta com o amarelo que predomina pelo resto da
vizinhança.
Apesar de sua capacidade, o açude abastece apenas a zona urbana,
onde moram 54% dos 16.529 habitantes do município. Quem habita
a zona rural não tem acesso à água
porque não existem canos que levem o produto até suas casas.
(FG)
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