São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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Sertanejos adotam até "rodízio"

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PAULISTANA (PI)

A dificuldade cada vez maior de obter água no sertão nordestino obrigou os sertanejos das áreas mais críticas do semi-árido do Piauí a instituir uma espécie de "rodízio de banhos". O sistema permite que cada pessoa da família tome apenas um banho por semana, exceto em situações especiais, como viagens para compra ou venda de produtos na cidade.
Na casa de Josias Ezequiel Pereira, 72, na zona rural de Paulistana, o rodízio de banhos foi implantado há quatro meses, com o agravamento da seca na região. Pereira divide sua casa, que foi transformada em escola municipal, com 22 parentes, entre mulher, filhos, genros, noras e netos. Das 23 pessoas, 14 são crianças com menos de 14 anos de idade.
A escola, batizada de Novamorada, mantém 29 alunos, sendo 6 da família de Pereira. A mulher dele, Carmina Josefa, 63, administra tudo: cozinha para a família, faz a merenda e cuida do estoque de água da casa. Ela usa cerca de 180 litros por dia. Para isso, duas filhas dela são obrigadas a andar 12 quilômetros duas vezes por dia para buscar o produto em um barreiro.
As mulheres puxam o jumento que carrega os cinco galões de 18 litros trazidos em cada viagem. Os homens da casa saem em busca de trabalho na roça ou catam lenha no mato para cozinhar.
"Antes a gente conseguia guardar água aqui na cacimba e dava para tomar banho quase todo dia. Agora, não", diz Carmina.
Mesmo assim, a quantidade de água é racionada. Uma bacia cheia tem de ser suficiente. Há famílias que usam outra bacia para reaproveitar a água que cai. "Aqui em casa, não", diz. "A água bate na pedra e vai embora pelo chão."


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