São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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Ida à Argentina, primeira escala do presidente eleito, mostra primazia do Mercosul para a política externa do PT

Viagem de Lula simboliza prioridade petista

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva inicia hoje pela Argentina sua primeira viagem internacional como símbolo de sua prioridade ao fortalecimento e expansão do Mercosul. Lula chega a Buenos Aires por volta das 22h na base aérea militar Aeroparque e será recebido pelo chanceler argentino, Carlos Ruckauf.
Amanhã, Lula começa o dia em um café da manhã privado com o presidente Eduardo Duhalde, na Residência de Olivos. Duhalde tenta se aproximar do petista.
Foi o primeiro chefe de Estado a confirmar presença em sua posse e, num gesto de confiança, antecipou a Lula que o país não pagaria a dívida com o Banco Mundial que venceu em meados de novembro, o que causou mais turbulências na Argentina.
Depois do encontro a sós com Duhalde, Lula, o senador eleito Aloizio Mercadante e o secretário-geral do PT, Luiz Dulci, reúnem-se com o ministro da Economia, Roberto Lavagna, o chanceler Ruckauf, o presidente do Senado, Juan Carlos Maqueda, e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Camaño.
A conversa com Duhalde é de "tema livre", mas os argentinos querem discutir a queda de mais de US$ 2,5 milhões das importações brasileiras, mecanismos de compensação do comércio bilateral e o fim de barreiras comerciais entre os dois países. A Argentina tem o Brasil como destino de 25% de suas exportações.
"As portas do mundo podem abrir-se para o Mercosul graças a vocação de união aduaneira que demonstra o presidente eleito", espera o chanceler Ruckauf.
À tarde, Lula recebe as chaves de Buenos Aires do prefeito da capital, Aníbal Ibarra, que esteve no Brasil após a vitória do petista apenas para cumprimentá-lo.
À noite, o presidente eleito participará, na sede da embaixada brasileira, de jantar com centenas de empresários, políticos e lideranças argentinas, promovido pelo embaixador José Botafogo Gonçalves.
Desde a campanha eleitoral, quando os adversários apontaram riscos de "argentinização" do país -não-pagamento das contas externas e ampliação das tensões sociais- em caso de sua vitória, Lula comprometeu-se a fazer sua primeira viagem internacional ao país.
Na Argentina, Lula evitará contatos isolados com pré-candidatos a presidente, em eleição marcada para abril. Audiências foram solicitadas, mas o petista manterá apenas contatos oficiais.
Diversos candidatos na Argentina tentam se beneficiar do que chamam de "efeito Lula". Víctor De Gennaro, cogitado como candidato da esquerda e presidente da CTA (Central de Trabalhadores Argentinos), a CUT de lá, divulga frase atribuída ao petista que o chama de "futuro presidente". Para escapar de constrangimentos, o petista evitará encontros individuais com candidatos.
Lula fará um pronunciamento de solidariedade à Argentina, mas não pedirá especificamente desculpas por uma frase dita durante a campanha que causou polêmica no país.
O petista afirmou que o Brasil não poderia ser tratado como uma "republiqueta como a Argentina". Depois de uma série de críticas, negou que tenha se referido ao país de maneira depreciativa. Disse que o entendimento de sua frase seria: "O Brasil não pode ser tratado como uma republiqueta, [não pode ser tratado" como a Argentina".
Lula chega ao Chile na terça-feira, onde se encontrará com o presidente Ricardo Lagos e participará de conversas na Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), órgão ligado à ONU e um dos berços do nacional-desenvolvimentismo no continente.

Palácios
Tanto na Argentina como no Chile Lula se hospedará em palácios que sediam as embaixadas brasileiras nos dois países.
Em Buenos Aires, vai ficar no Palácio Pereda, batizado com o nome do fazendeiro que o começou a construir em 1917, inspirado em prédios franceses. Com seus três andares e mais de 40 cômodos, é um dos pontos turísticos da capital. Foi comprado em 1944 para ser sede da embaixada brasileira por Getúlio Vargas.
No Chile, Lula dormirá no Palácio Errázuriz, batizado com o nome do empresário que o ergueu em 1842. A embaixada brasileira funciona lá desde 1941.



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