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Ida à Argentina, primeira escala do presidente eleito, mostra primazia do Mercosul para a política externa do PT
Viagem de Lula simboliza prioridade petista
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente eleito Luiz Inácio
Lula da Silva inicia hoje pela Argentina sua primeira viagem internacional como símbolo de sua
prioridade ao fortalecimento e expansão do Mercosul. Lula chega a
Buenos Aires por volta das 22h na
base aérea militar Aeroparque e
será recebido pelo chanceler argentino, Carlos Ruckauf.
Amanhã, Lula começa o dia em
um café da manhã privado com o
presidente Eduardo Duhalde, na
Residência de Olivos. Duhalde
tenta se aproximar do petista.
Foi o primeiro chefe de Estado a
confirmar presença em sua posse
e, num gesto de confiança, antecipou a Lula que o país não pagaria
a dívida com o Banco Mundial
que venceu em meados de novembro, o que causou mais turbulências na Argentina.
Depois do encontro a sós com
Duhalde, Lula, o senador eleito
Aloizio Mercadante e o secretário-geral do PT, Luiz Dulci, reúnem-se com o ministro da Economia, Roberto Lavagna, o chanceler Ruckauf, o presidente do Senado, Juan Carlos Maqueda, e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Camaño.
A conversa com Duhalde é de
"tema livre", mas os argentinos
querem discutir a queda de mais
de US$ 2,5 milhões das importações brasileiras, mecanismos de
compensação do comércio bilateral e o fim de barreiras comerciais
entre os dois países. A Argentina
tem o Brasil como destino de 25%
de suas exportações.
"As portas do mundo podem
abrir-se para o Mercosul graças a
vocação de união aduaneira que
demonstra o presidente eleito",
espera o chanceler Ruckauf.
À tarde, Lula recebe as chaves de
Buenos Aires do prefeito da capital, Aníbal Ibarra, que esteve no
Brasil após a vitória do petista
apenas para cumprimentá-lo.
À noite, o presidente eleito participará, na sede da embaixada
brasileira, de jantar com centenas
de empresários, políticos e lideranças argentinas, promovido pelo embaixador José Botafogo
Gonçalves.
Desde a campanha eleitoral,
quando os adversários apontaram riscos de "argentinização" do
país -não-pagamento das contas externas e ampliação das tensões sociais- em caso de sua vitória, Lula comprometeu-se a fazer sua primeira viagem internacional ao país.
Na Argentina, Lula evitará contatos isolados com pré-candidatos a presidente, em eleição marcada para abril. Audiências foram
solicitadas, mas o petista manterá
apenas contatos oficiais.
Diversos candidatos na Argentina tentam se beneficiar do que
chamam de "efeito Lula". Víctor
De Gennaro, cogitado como candidato da esquerda e presidente
da CTA (Central de Trabalhadores Argentinos), a CUT de lá, divulga frase atribuída ao petista
que o chama de "futuro presidente". Para escapar de constrangimentos, o petista evitará encontros individuais com candidatos.
Lula fará um pronunciamento
de solidariedade à Argentina, mas
não pedirá especificamente desculpas por uma frase dita durante
a campanha que causou polêmica
no país.
O petista afirmou que o Brasil
não poderia ser tratado como
uma "republiqueta como a Argentina". Depois de uma série de
críticas, negou que tenha se referido ao país de maneira depreciativa. Disse que o entendimento de
sua frase seria: "O Brasil não pode
ser tratado como uma republiqueta, [não pode ser tratado" como a Argentina".
Lula chega ao Chile na terça-feira, onde se encontrará com o presidente Ricardo Lagos e participará de conversas na Cepal (Comissão Econômica para a América
Latina), órgão ligado à ONU e um
dos berços do nacional-desenvolvimentismo no continente.
Palácios
Tanto na Argentina como no
Chile Lula se hospedará em palácios que sediam as embaixadas
brasileiras nos dois países.
Em Buenos Aires, vai ficar no
Palácio Pereda, batizado com o
nome do fazendeiro que o começou a construir em 1917, inspirado
em prédios franceses. Com seus
três andares e mais de 40 cômodos, é um dos pontos turísticos da
capital. Foi comprado em 1944
para ser sede da embaixada brasileira por Getúlio Vargas.
No Chile, Lula dormirá no Palácio Errázuriz, batizado com o nome do empresário que o ergueu
em 1842. A embaixada brasileira
funciona lá desde 1941.
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