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Partido enfrentará contradições por causa das sucessivas contestações judiciais contra medidas do governo de FHC
PT tem de derrotar PT para ter verba em 2003
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O equilíbrio das contas no governo do presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva, exigirá uma
derrota de seu partido, o PT, no
STF (Supremo Tribunal Federal)
para preservar a emenda constitucional que lhe dará relativa liberdade para gastar em 2003 mais
de R$ 30 bilhões do Orçamento,
equivalentes a 20% da arrecadação tributária anual.
Esse é um dos exemplos das
contradições a que o PT estará exposto a partir de 1º de janeiro,
quando Lula assume, por causa
das sucessivas contestações judiciais de medidas do governo de
Fernando Henrique Cardoso relativas ao aumento na receita ou à
maior flexibilidade no uso dos recursos existentes.
A emenda, de março de 2000,
estabeleceu que um quinto da arrecadação de impostos e contribuições sociais da União ficaria
desvinculado de qualquer tipo de
despesa até o ano que vem. Normalmente as receitas são vinculadas a determinados gastos, não
deixando margem de liberdade
de aplicação ao governo. Esse mecanismo, prorrogado desde o início do Plano Real, é considerado
fundamental ao equilíbrio das
contas públicas pelo Fundo Monetário Internacional.
Em 2000, a oposição ao governo
FHC, representada por PT, PDT,
PSB e PC do B, entrou com uma
ação direta de inconstitucionalidade no Supremo contra a emenda. O processo ainda não foi submetido a julgamento.
Os quatro partidos sustentam
que a desvinculação teria comprometido o equilíbrio financeiro
da Previdência Social, previsto na
Constituição (artigo 201).
Desidexação e Provão
O partido de Lula também tentou derrubar judicialmente a medida provisória do Plano Real que
acabou com a desindexação dos
salários, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a criação do Exame Nacional de Cursos, o Provão. Essas
iniciativas do governo FHC permanecem válidas.
A necessidade de ampliar a arrecadação federal poderá levar o
PT a rever a sua resistência à cobrança da contribuição previdenciária dos servidores inativos, instituída por lei em janeiro de 1999 e
derrubada oito meses depois pelo
STF. Naquele momento, a perda
de arrecadação foi estimada em
R$ 2,3 bilhões por ano. A reforma
da Previdência já acenada por Lula trará esse debate à tona.
A lei que instituía a contribuição
de aposentados e pensionistas da
União foi contestada em quatro
ações: uma apresentada pelo PT,
com o PDT, o PSB e o PC do B, e as
outras pela Ordem dos Advogados do Brasil, pela Confederação
dos Servidores Públicos do Brasil
e pelo PMN. Como a lei foi suspensa, o recolhimento da contribuição agora depende de emenda
constitucional.
Ainda na área da seguridade, o
PT foi um dos autores de uma
ação contra o fator previdenciário, a nova fórmula de cálculo da
aposentadoria do trabalhador do
setor privado, em vigor desde
1999 e que premiou quem trabalha mais tempo e prejudica os que
se aposentam mais cedo.
O PT e os parceiros na ação
-PDT, PC do B e PSB- foram
derrotados. O STF reconheceu a
validade do novo critério de cálculo da aposentadoria e considerou que a mudança cumprira a
exigência de equilíbrio financeiro
e atuarial no sistema de recolhimento de contribuição e pagamento de aposentadorias.
Em outro caso, o governo do PT
está obrigado a reajustar anualmente o salário do funcionalismo
por causa de uma decisão do STF
que, a pedido do próprio PT e do
PDT, em abril de 2001, declarou
FHC omisso quanto a essa obrigação. Nesse caso, foi explorada
uma norma incluída na Constituição pela emenda da reforma
administrativa, de 1998, que previu a "revisão geral anual" da remuneração dos servidores. O Orçamento de 2003 prevê aumento
linear de 4% para compensar perdas deste ano.
A primeira batalha judicial do
próximo governo em que surgirem liminares da primeira instância ordenando a liberação de dinheiro da União também irá expor a equipe de Lula a uma incoerência. Se houver risco de sangria
dos cofres públicos antes de decisão judicial definitiva, o futuro
advogado-geral da União terá de
enfrentar o dilema de utilizar ou
não de instrumentos jurídicos
criados por uma polêmica MP do
governo FHC, cuja validade é
contestada pelo próprio PT.
A medida facilitou a cassação
pelo presidente do STF de liminares das instâncias inferiores, mas
foi vista como um instrumento
autoritário, por centralizar poder
na cúpula do Judiciário. Apesar
da contestação no Supremo, ela
permanece válida.
A Folha procurou ouvir o PT,
por meio da assessoria da liderança do partido na Câmara, onde essas ações normalmente são preparadas. A assessoria informou
não comentaria o assunto.
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